segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Ano Novo

     Há alguns dias a professora nos contou que os alemães adoram fogos de artifício. Realmente, algumas semanas antes do Natal vários cartazes de vendas dos tais fogos começaram a proliferar pela cidade. Em cores extravagantes, dos mais diversos formatos, pendurados em árvores e sacadas, lá estavam eles avisando que, naquele local, era possível comprar Feuerwerk. Mas nada me preparou para o que vi pelas ruas.
Foto retirada de http://blog.housetrip.com/new-years-eve-in-europe/
     A "fogueteação" começou às 19hs. Claro que não com tanta intensidade, mas o barulho estava lá, constante até a meia-noite. Decidi não ir para lugares onde a multidão estaria, como o Portão de Brandemburgo ou a Alexanderplatz, mas ficar em casa. No que o relógio virou o último minuto, bem nessa hora, saí para encontrar uma amiga na praça que fica há três quadras da minha casa. Nunca havia sentido medo nas ruas da cidade, mas hoje, me assustei até não poder mais. As ruas parecem um campo de guerra. Você pisa em cartuchos e caixas de fogos a cada passo. Absolutamente todo mundo vai para a calçada e solta seu arsenal particular. E não são "estalinhos", são realmente fogos de artifício daqueles que estouram no céu colorindo tudo e fazendo sons estranhos. São famílias inteiras, grupos de amigos, pessoas sozinhas: todos com suas bombinhas. Não se consegue dar um passo sem levar um susto, sem ter que se proteger de algum fogo vindo na sua direção, e sem pensar que sua audição nunca mais será a mesma. Lágrimas escorrem dos olhos com a quantidade de fumaça que enche as ruas. E se você pensa que isso dura uns 10 minutinhos, está muito enganado! A "fogueteação" braba dura 1 hora!!!!!!!! (Contado no relógio! Sério!)

     A volta para casa foi complicada, pois não sabia se deveria andar pela calçada ou no meio da rua, não sabia de que direção me proteger porque, durante toda a caminhada, me via cercada de fogos vindo de todos os lados. Cheguei em casa com os ombros nas orelhas e os olhos arregalados. Nunca pensei em ver Berlim sob uma nuvem cinza de fumaça e estouros sem fim. Já não sou muito fã do ano novo desde criança, mas nunca tive uma sensação tão estranha quanto hoje. Não sei se é o peso da história da cidade, mas à noite, no meio da fumaça, com cacos de vidro, cartuchos e caixas de fogos, sujeira para todo lado, parecia que uma luta tinha acontecido por aqui. Fiquei com uma sensação pesada. Prometi que voltaria para encontrar o pessoal num bar, mas acho que a coragem ficou no bolso.

* Esse vídeo é da virada de 2011/2012 e não foi filmado no meu bairro, mas é assim pela cidade toda. Acho que dá pra ter uma noção do caos. (Deixem chegar aos 40 segundos para ver as ruas.) Fogos de Ano Novo em Berlim (2011/2012)

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Expectativas

     O que faz com que uma pessoa sinta orgulho de outra?
     Faz algum tempo que certos pensamentos andam rondando a minha mente. Não sei se bons ou ruins, construtivos ou destrutivos, ou se apenas dúvidas normais de qualquer ser humano. Já que ninguém fala sobre isso, como saber?
    Desde que nascemos temos uma expectativa gerada em cima de nós e, conforme crescemos, criamos nossas próprias expectativas (sobre nossas vidas e sobre outras pessoas) e tentamos superá-las ou, ao menos, satisfazê-las. Algumas pessoas parecem não ter vida própria e seguem todo o manual de instruções que receberam de seus pais desde seu nascimento sem nunca expressar suas próprias vontades e desejos. Alguns até confundem essas expectativas externas com seus desejos íntimos. Outros vivem para não cumprir nada daquilo que lhes foi planejado, vivem para desafiar tais expectativas. E outros, acredito que a maioria, vivem meio lá e meio cá tentando satisfazer as expectativas e sonhos alheios e próprios. Esses últimos, coitados, penam.
     Acho que me encaixo no último grupo. Sei que, como todos os pais e mães da Terra, os meus também criaram suas respectivas expectativas em cima de mim sobre o tipo de vida que eu teria, a carreira que escolheria, etc. Sinceramente, acho que frustrei todas. Há dentro de mim dois seres diferentes que brigam e não parecem se entender. Um gostaria de viver nos anos 50 e apenas cuidar da casa e dos filhos, seguir aquilo que a sociedade espera e encontrar a felicidade nas coisas simples trazidas pelo manual de instruções sociais. O outro tem horror às coisas simples demais, não consegue se satisfazer com pouco, não segue várias regras impostas pela sociedade e nunca faz o que se espera dele. Viver com essa dicotomia dentro é complicado. Bem complicado.
     Meu lado tradicional adora cozinhar (de preferência coisas doces, difíceis e belas, como de confeitaria), bordar, cuidar da casa, acha lindo romance tradicional daqueles de receber flores e chocolates, casas com jardim onde crianças e gatinhos brincam no quintal, famílias e comemorações de Natal com tudo que tem direito. O outro lado é mais impaciente, não consegue trabalhar ou fazer nada que não proporcione o mínimo de prazer, não acha seu lugar no mundo, vai para onde o vento soprar, não se encaixa na definição social de família, não se encaixa em nada daquilo que é esperado de uma pessoa do sexo feminino com exceção do gosto por maquiagem, vestidos e saltos.
     Na verdade, ambos os lados adorariam ter um trabalho que desse uma boa renda e que fosse agradável; ambos gostariam de ter uma casa com gatinhos e crianças correndo no quintal. Mas a realidade às vezes bate e me pergunto o que será que meus pais pensam de mim? Ao que tudo indica eu não sou um exemplo de filha. Não sou daquelas que dão orgulho aos pais: não casei, não tenho filhos, não me sustento (não chego nem perto disso!), não encontro meu lugar no mundo, tenho menos rumo hoje do que tinha na adolescência e muito mais frustrações, não consigo realizar nenhum dos meus sonhos mais importantes, já passei dos 30 e não tenho a mínima perspectiva de conseguir realizar o mais simples dos meus sonhos: uma casinha com jardim e uma pequerrucha a tiracolo. Fico imaginando o que eles devem pensar e sentir... Queria enche-los de felicidade, cumprir pelo menos alguns dos sonhos deles, ser motivo de orgulho, mas não sei ser de outra forma.
     Às vezes acho que nado contra a correnteza, outras que a correnteza me leva sem que eu tenha nenhum controle sobre a direção. Cada ano que passa é mais um peso sobre os ombros, mais cobrança interna e mais frustração. Dizem que a vida tem um plano pra nós e não adianta ir contra ele. Será? Que plano será esse que até agora não parece se mostrar? E mais expectativa se cria, dessa vez sobre a vida.
     Difícil questão essa das expectativas.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Natal na sua própria companhia

     Quem me conhece sabe que eu adoro o Natal tradicional, ou seja, aquele com a casa toda decorada (como nos filmes!), delícias especiais feitas para a ocasião, pinheirinho enfeitado, "Noite Feliz" como trilha sonora, presentes abertos à meia-noite, etc. Tudo conforme manda o figurino. Ainda sonho com um Natal desses e, de preferência, com a paisagem branquinha do lado de fora da janela enquanto todos estão aquecidos dentro. Isso aí mesmo que você deve estar pensando: Natal cinematográfico. E qual o problema em gostar e querer um assim?
     Esse foi meu primeiro Natal longe da minha família e amigos. Em 35 anos de vida, nunca antes havia passado o feriado longe da minha mãe. Confesso que a saudade encheu o coração nesse dia 24, mas também que não foi um Natal ruim. Quem imagina que esse teria sido um dia solitário, sinto dizer, se enganou. Não é por estar longe que vou deixar de comemorar uma data que gosto tanto. Decorei a casa, inventei um pinheirinho, coloquei luzinhas nas janelas, cozinhei coisinhas especiais (e típicas, no caso da Eggnog), e coloquei comidinha especial para a "ceia" dos filhotes. Por volta das 21:30 fiz minha ceia, sempre acompanhada pelo ronronar de duas bolinhas de pelo adormecidas. Assisti uma comédia romântica (claro!), dei boas risadas. Depois, acendi as velinhas na janela e desejei felicidade e paz para o mundo todo. Pouco antes da meia-noite, coloquei os presentes em cima do tapete e sentei em frente a eles. Comecei a cantar "Noite Feliz" pensando em cada um dos meus queridos lá do outro lado do Atlântico. Nessa hora, o Petruchio e a Sophia acordaram, vieram para o meu lado e ficaram me observando. Terminei a música, desejei feliz Natal pra eles e pra todo mundo nos meus pensamentos e abri os presentinhos que esperavam há dias por esse momento.
     Assisti mais um filminho leve e fofo pra aquecer ainda mais o coração e me preparei pra dormir. Apaguei as velinhas, não sem antes a Sophia queimar os bigodes tentando cheirá-las, e mais uma vez mandei um abraço pra todo mundo que mora no meu coração e fui dormir.
     Meu primeiro Natal com os filhotes e longe do pessoal foi tranquilo, cheio de boas energias, paz e uma imensa sensação de amor recebida e emanada. Foi um belo Natal.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

E-mails... Quem nunca?

     Hoje eu iria escrever sobre os mercados natalinos da Alemanha, mas recebi um e-mail que achei valer a pena ser copiado aqui.
     Quem não está cansado de receber aquelas correntes infelizes que dizem que se você não reenviá-la a sabe-se lá quantos amigos, seus desejos não serão realizados ou algo terrível irá lhe acontecer? Quem nunca recebeu vários pps sobre bactérias, vírus e afins. E-mails esses que só ajudam a deixar os impressionáveis mais impressionados e os hipocondríacos mais nervosos? E aqueles e-mails de santinhos, anjinhos, fadinhas e outros seres etéreos?
   Então, para todos que compartilham comigo desse sentimento, copio aqui o último e-mail que recebi. Afinal, quem nunca?

"Eu não abro mais a porta do banheiro sem usar uma toalha de papel nas mãos; não bebo mais refrigerante com rodelas de limão ou laranja sem me preocupar com as milhares de bactérias na casca;

Eu não consigo mais usar o controle remoto
em quartos de hotel porque não sei o que a última pessoa estava fazendo enquanto navegava nos canais adultos;

Eu tenho dificuldade em apertar a mão de alguém
que estava dirigindo porque o passatempo predileto de alguém dirigindo é escarafunchar o nariz;

Eu não consigo pegar numa bolsa de mulher
com medo que ela a tenha colocado no chão de um banheiro público;

Eu tenho que mandar um agradecimento especial
para quem me mandou uma mensagem falando do cocô de rato na cola de envelopes porque agora eu uso uma esponja úmida para cada envelope que precisa ser selado.. Pela mesma razão, escovo vigorosamente cada latinha antes de abri-la;

Eu não tenho mais economias
porque dei para uma menina doente (Penny Brown) que está para morrer pela 1.387.258 vez.

Eu não tenho mais dinheiro
, mas isto vai mudar quando eu receber os 15.000 dólares que o Bill Gates/Microsoft e AOL vão me mandar por participar no programa especial de e-mail.

Eu não me preocupo mais com minha alma
porque eu tenho 363.214 anjos olhando por mim, e a novena de Santa Theresa atendeu a todos os meus desejos.

Eu não posso mais beber um drink
num bar porque posso acordar numa banheira cheia de gelo sem meus rins.

Eu não posso mais usar desodorantes,
cancerígenos, mesmo fedendo como um búfalo num dia quente.

GRAÇAS A VOCÊS
aprendi que minhas preces só serão atendidas se eu enviar um email para 7 dos meus amigos e fizer um desejo em 5 minutos.

GRAÇAS À SUA PREOCUPAÇÃO
eu não bebo mais Coca Cola porque ela é capaz de remover manchas em privadas.

Eu não abasteço mais o carro
sem ter alguém vigiando o carro para que um serial killer não entre no banco de trás enquanto eu estou abastecendo.

Eu não bebo mais Pepsi ou Fanta
porque as pessoas que produzem esses produtos são ateístas e se recusaram a colocar nas latinhas "Feito por Deus".

E OBRIGADO POR ME AVISAR
que eu não posso esquentar um copo de água no micro-ondas porque pode estourar na minha cara.... e me desfigurar para a vida inteira.

Eu não vou mais ao cinema
porque me disseram que eu posso ser picado por um alfinete infectado com AIDS, quando eu sentar.

Eu não vou mais a shopping centers
porque alguém pode me drogar com uma amostra de perfume e me roubar.

Eu não recebo mais pacotes da UPS ou FedEx
porque na realidade os entregadores são agentes disfarçados da Al Qaeda.

E eu não atendo mais telefones
porque alguém vai me pedir que disque um número pelo qual eu vou receber uma conta com chamadas para a Jamaica, Uganda, Singapura e Uzbekistan.

GRAÇAS A VOCÊ
eu não uso outra privada que não a minha porque uma enorme cobra preta pode estar escondida dentro da privada e me matar, instantaneamente, quando picar minha bunda.

E
, GRAÇAS AO SEU ÓTIMO CONSELHO eu não me abaixo mais para pegar uma moeda caída no chão do estacionamento porque provavelmente foi colocada lá por um tarado sexual que estará esperando prá me agarrar por trás quando eu me abaixar...

Eu não dirijo mais meu carro
porque comprando gasolina de algumas empresas, estou apoiando a Al Qaeda e se comprar das outras companhias, estou apoiando os ditadores sul-americanos.

Eu não mexo mais no meu jardim
porque tenho medo de ser picado pela aranha madeira e minha mão vai cair.

Ah... E estou guardando a escova de dentes
no meu quarto, por causa das bactérias do banheiro. E a última é que o filtro solar engorda; não sei como vou me salvar neste verão mas já estou me orientando para sobreviver!

Se você não mandar este e-mail para pelo menos 144.000 pessoas nos próximos 70 minutos, uma pomba grande, com diarreia, vai pousar em sua cabeça às 17:00horas, amanhã, e as moscas de 120 camelos vão infestar suas costas, causando o crescimento de uma enorme corcunda cabeluda. Eu sei que isto vai acontecer porque aconteceu com a cabelereira da melhor amiga do segundo marido da prima da sogra da minha vizinha....Ah, e a propósito...

Um cientista alemão da Argentina descobriu, após um longo estudo, que pessoas com pouca atividade cerebral leem seus emails com a mão sobre o mouse.


Não se preocupe em tirá-la. É tarde demais!
"

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Preciosas companhias

     Há milhares de anos o ser humano possui como companhia outros animaizinhos desse mundo. Há milhares de anos eles fazem a alegria de adultos e crianças. Não é de se admirar que há anos os terapeutas os indicam como ajuda para depressão, solidão, entre outras coisinhas chatas e difíceis que às vezes aparecem na vida.
     Minhas companhias são minhas jóias. Presentinhos que a vida me trouxe e que, mesmo nos momentos mais difíceis, conseguem extrair sorrisos e felicidade. Adoro ir para a cama e ouvir seus barulhinhos durante a noite. Adoro ouvir o som do ronquinho gostoso que fazem quando estão dormindo profundamente e ver seus tremeliques quando estão sonhando. Quando vou pra cama e sinto eles subindo na cama e encostando em mim pra dormir, o coração aquece e imediatamente o sorriso aparece em meu rosto.
     Tem coisa mais gostosa que chegar em casa e encontrar essas bolinhas peludas felizes por te ver? Tem coisa mais gostosa que o carinho que eles demonstram? A capacidade de amor desses bichinhos extrapola qualquer tentativa de medição.
     Uma vez li uma reportagem que dizia que gatos e cachorros possuem capacidades cerebrais como as de uma criança entre 3 e 4 anos. A reportagem se referia ao fato de eles não serem autosuficientes e à sua memória. Assim como acontece com uma criança pequena, não adianta brigar com eles quando encontramos uma certa "baguncinha" pela casa horas depois de ela ter sido feita, pois eles não associam a briga à bagunça. Achei muito interessante a reportagem, mas sempre fico me perguntando o porquê de nós humanos estarmos sempre querendo comparar os outros animais conosco. Quem convive com eles sabe muito bem o quão inteligente, carinhosos e amorosos eles são.

     Outra coisa que não consigo entender são as pessoas que se "desfazem" de seus bichinhos quando estão grávidas. Estamos no século XXI e já sabemos muito bem que isso não é necessário. Os próprios veterinários não concordam com essa medida. Claro que os animaizinhos têm que estar saudáveis e ser bem cuidados, mas isso nós também precisamos. Ainda bem que a consciência em relação a isso está aumentando, mas os gatos, especialmente, ainda são os que mais sofrem com o preconceito e a falta de informação à cerca de gravidez acompanhada da presença deles. Conheço pessoas e veterinários incríveis que mantiveram e continuam a manter seus bichinhos perto de si e de seus novos bebês. Todos felizes e as crianças crescendo saudáveis e aprendendo a respeitar e amar os animais.
     Bichinhos são como crianças, a gente os ama, educa, cria, mas não manda embora quando nos é conveniente ou os deixa para trás. Assim como filhos, eles são para sempre! E, na minha vida, eles têm papel fundamental. Amo meus filhotinhos loucamente e sinto falta deles a cada hora longe. Ainda bem que, ao chegar em casa, eles estão lá, com seus olhinhos amarelos esperando ansiosamente para continuar a oferecer todo amor que sentem.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Qual o seu lugar no mundo?

     Como todos que me conhecem sabem, eu adoro viajar! Colocar uma mochila nas costas e rodar o mundo! Tem coisa mais interessante que conhecer outras culturas? Acho que devo ter resquícios nômades em meus genes. Ficar tempo demais no mesmo lugar não me agrada. Gosto de sair por aí e tentar novas experiências. Às vezes melhores, outras piores, mas sempre enriquecedoras, elas nos fazem crescer e nos tornarmos pessoas melhores. Por isso, quis compartilhar algo que Amyr Klink uma vez falou e com que me identifico a cada dia mais.
     Conhecido por suas façanhas marítimas ao redor do globo, por passar semanas preso no gelo, por viver na casa que foi de seu avô, nosso querido aventureiro, Amyr Klink, é uma das pessoas que me inspira. Suas viagens e histórias que delas brotam são incríveis. Um cara eco-consciente que tenta fazer a sua parte por um mundo melhor. Precisamos de mais pessoas assim no planeta, não?

     "Um homem precisa viajar, por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou televisão. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés para entender o que é seu, pra um dia plantar suas próprias árvores e dár-lhes valor; conhecer o frio para desfrutar do calor, e o oposto; sentir a distância, o desabrigo, para estar bem sob o próprio teto.
     Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância de fazer o mundo como imaginamos e não simplesmente como é, o que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos e simplesmente ver." (Amyr Klink)

     Talvez um dia eu canse de viajar por tanto tempo e resolva ficar no mesmo lugar, saindo apenas por curtos períodos. Mas, por enquanto, ainda sinto que não encontrei meu lugar no mundo. Estranho pensar nisso. Vejo meus amigos casados, trabalhando, com famílias formadas. Existe uma pressão social, uma certa idéia de que se tem idade para se perder pelo mundo e que eu já passei dessa idade. Não acredito nisso, não me sinto assim. Estabilidade, casa, família, tudo lindo. Sei que quero isso também, sei que o tempo não está a meu favor, mas como conseguir todas essas coisas se ainda não encontrei meu cantinho nesse mundão? Um dia sei que vou encontrar o lugar que me fará pensar e sentir "quero ficar aqui para sempre" mas, por enquanto, ainda não cheguei lá. Será que está na hora de viajar de novo?


quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Nem sempre as coisas são como se espera

      Nesses últimos dias parei para fazer um balanço desses três meses em terras alemãs. Posso dizer que o resultado, até agora, não foi dos melhores. O primeiro mês foi um esforço de adaptação que não deu certo. Adaptação não ao país, à língua ou às pessoas, mas adaptação a um apartamento minúsculo e destruído. Foi um primeiro mês difícil, muito difícil, onde só conseguia pensar que, talvez, tivesse tomado uma decisão errada. Era difícil cair na realidade do padrão de moradia em que me encontrava. Sem o mínimo do conforto necessário, como armários.
     O segundo mês começou melhor, em parte porque comecei a ter aulas e, então, já tinha algo pra fazer que tirava minha atenção do caos em que estava vivendo. Funcionou um pouco e por algumas semanas me senti melhor. Ao mudar de apartamento tudo melhorou ainda mais. Fiquei empolgada em ter um lugarzinho arrumado, aconchegante e que tem cara de casa (por menor que seja). Mas enquanto uma parte da vida melhorava, outra foi deteriorando. E, não tenho idéia de porquê. Só sei que é difícil. Extremamente difícil e não parece melhorar, pelo contrário. O que era pra ser leve e divertido, está pesado e sem razão.
      Agora percebo que estou aqui há três meses e nada do que me propus vir fazer aqui, foi feito. Aliás, não foi nem iniciado. Não sei por onde começar. Sinto como se tivesse minhas forças sendo sugadas, meu humor decaindo a cada dia, estou sempre cansada. Me sinto como se estivesse presa, acorrentada, querendo respirar, querendo sair do buraco, desesperadamente procurando por ar e sozinha. Não é necessário dizer que com tudo isso, pra quem nunca foi uma pessoa matinal, acordar às 6:30 tem se tornado cada vez mais difícil. Pizza e sorvete têm se tornado companheiros inseparáveis. Me vejo como Bridget Jones: "em um relacionamento sério com dois homens ao mesmo tempo. O primeiro chamado Ben e o outro Jerry's".
     Penso e repenso na decisão de ter vindo. Não, não me arrependo. Não me arrependo de fazer coisas que quero, mas sim de não a tê-las feito. Sou forte. Sempre fui. Faço as mudanças e tomo as decisões da minha vida e encaro as conseqüências delas. Ainda é cedo. Talvez seja banzo do terceiro mês e as coisas daqui a pouco melhorem. Quem sabe? Minhas "pequenas-imensas" alegrias peludas tornam a vida sempre melhor.

domingo, 25 de novembro de 2012

Café "Cazamiga"

     Podem me chamar de velha, antiquada, ou, como um amigo gosta de falar: "boring" (chata, em inglês), mas um dos programas que mais gosto de fazer é ir à uma cafeteria. A-do-ro sentar em um local interessante, pedir um café e ler um bom livro. Mas gosto mais ainda quando tenho a companhia de amigas de verdade, daquelas que aparecem poucas vezes na vida.
     Não é de se admirar que tenho sentido muita falta daquelas pessoas tão queridas e que fazem a vida da gente mais divertida, interessante e alegre. Aquelas criaturinhas que parecem ter surgido na nossa vida pra iluminar nossos caminhos. Pessoas essas que estão lá para o que der e vier: te dão colo nas horas tristes, abraços nos momentos fáceis e difíceis, conselhos, papo furado, risadas e, claro, também puxam a orelha e falam na lata algumas verdades que não vemos ou não queremos ver. Elas estão lá pra ti. E tu estás lá pra elas também.
     Minhas companheiras de café gostam da idéia de passarmos horas sentadas apenas saboreando delícias e aproveitando a companhia uma da outra. Para elas não tem tempo ruim, não tem programa chato, não tem tempo ruim, pois tudo que querem é passar tempo entre amigas. Essas pessoas fazem uma falta danada quando estão longe. Mas, ainda assim, não deixamos a distância se entrepôr entre nós. Quando chegar a hora de voltar, sei que elas estarão lá e nossa amizade continuará inabalada, forte. Voltaremos a tomar nosso café e dar nossas risadas. Assistir filmes juntas e cantar junto com a trilha sonora. Rir dos tropeços amorosos uma da outra. Compartilhar sonhos, esperanças, desejos e medos. Dançar, gargalhar e se divertir nas noites quentes de verão. Conversar sobre nós, o mundo, a vida. Divagar. Enfim... tudo aquilo que, à distância, não é possível fazer agora. E elas fazem falta... Ô como fazem!
     Pessoas como elas aparecem poucas vezes na vida, mas isso não é problema, pois quando aparecem é pra ficar. Às vezes elas acabaram de surgir, outras vezes, estão presentes desde que você se entende por gente. Os anos passam e elas continuam ali, oferecendo seu carinho, amizade, compreensão. Estejam elas onde estiverem, Rio, São Paulo, Brasília, Alemanha, ou na Lua, com certeza estão sempre perto do coração.


sábado, 24 de novembro de 2012

Academia é sempre um parto!

     Já faz algumas semanas que tenho frequentado uma academia perto de casa. Nunca fui muito fã de academias e continuo não sendo, mas pelo menos é algo para aproveitar meu tempo e me impedir de engordar com as guloseimas daqui.
     Uma das coisas que sempre me incomodou nesses lugares é a música alta. Nunca entendi porque toda academia precisa ter música "ambiente" alta. E, normalmente, a música é bem chata! Acho que as pessoas não entendem o conceito de "música ambiente". O som que vem das aulas nas salas de ginástica também é, normalmente, insuportávelmente alto. Os professores chegam ao cúmulo de usar microfone para dar aulas em salas que são menores que as encontradas em escolas. Ou seja, a poluição sonora nesses lugares é muito incômoda. Outra coisa é o público. Não consigo suportar aquelas pessoas que ficam se admirando no espelho, desfilando entre os aparelhos, fingindo que estar ali é a coisa mais interessante e empolgante do mundo.
     Bom, a necessidade de fazer exercício se fez presente e, como vivo em um Kinder Ovo, ficou difícil (quase impossível) fazer meus exercícios em casa. Com o inverno se aproximando andar de bicicleta pela rua também se tornou uma missão impossível, ao menos para mim. A solução foi procurar uma dessas "caixas de transformar corpos" espalhadas por ai. Escolhi uma bem perto e de acesso perfeito para ir logo após as aulas, senão, me conheço, não irei.
     A princípio o espaço se parece com todos os outros de academias grandes do mundo ocidental. Várias esteiras, bicicletas, simuladores de escadas, um ao lado do outro e todos virados para 11 televisões, cada uma com um canal diferente. Você pode escolher o canal e usar seu fone para ouvi-lo enquanto caminha/sobe-e-desce/pedala. Primeiro ponto positivo, já que ninguém é obrigado a ouvir o programa e pode, também, ouvir música se preferir. Segundo ponto a favor: as máquinas de musculação (pessoalmente as que mais detesto) ficam em um canto separado, sem espelhos as rodeando. Terceiro ponto positivo: existem espaços próprios para fazer abomináveis (ou, abdominais na linguagem correta) e outro para fazer o alongamento. Quarto ponto positivo: Apesar de a academia ter três salas de aula, não se escuta um só som vindo delas mesmo durante aulas enérgicas como spinning. Quinto ponto positivo, na parte dos aparelhos de musculação existe música ambiente, mas bem baixinha, o que não atrapalha se estiver ouvindo meu walk-man. Sexto ponto positivo: uma das professoras de Fit-Bo (algo que tenta seguir a linha de Body Combat) é gordinha. Acho o máximo que uma academia tenha professores gordinhos, já que eles também precisam emagrecer e se manter saudáveis e, não é porque estão um pouco acima do peso que não são bons profissionais. Sétimo ponto positivo e um dos melhores: depois da sua avaliação (muito mais fácil e simpática que as por mim já realizadas nas academias brasileiras) e de sua série elaborada, o instrutor te deixa em paz!!! Não fica cuidando da sua vida ao invés da dele. Claro que, se você estiver fazendo o exercício errado, ele vem te ajudar e corrigir mas, no geral, ele te deixa em paz pra aumentar a velocidade e altura da esteira, o peso das máquinas (claro, tudo com bom senso e bem explicado antes de você começar a se exercitar), etc. Por exemplo, a minha série nas máquinas é bem curta pois avisei o instrutor que simplesmente detesto puxar ferro. Ele acabou por me dar apenas 3 exercícios básicos: costas, peito e barriga, pernas eu já uso bastante com a quantidade de escadas desse país e o quanto ando, e eu aumentei por conta própria os 10 minutos de esteira que ele me deu para 30 andando e correndo pois andava muito mais que isso no Rio. Mas eu faço, além do que me foi dado, os exercícios dos vídeos da Jillian Michaels que possuo e já sei de cor, na área de abomináveis e ninguém vem me encher a paciência porque aquilo não faz parte da minha série. Essa é uma das coisas que está me mantendo firme e forte para frequentar a academia: liberdade.
     Entretanto, o que mais me chama a atenção é o público. Os caras bombados estão todos lá, as senhorinhas tentando manter a forma também, as patricinhas que nem depois de uma aula de spinning estão escabeladas também, enfim, o público é parecido mas a maneira de encarar o fato de se estar em uma academia é diferente. Não vejo pessoas se admirando no espelho, desfilando entre os aparelhos ou fazendo hora na academia. Todos parecem bem concentrados em seus exercícios e muito focados: chegam, trocam de roupa, começam os exercícios e seguem direto de um para o outro sem enrolação (respeitando apenas o tempo de descanso entre um e outro previamente instruídos pelo profissional responsável), terminam, trocam de roupa e vão embora. O público aqui é muito prático. Não sei se é coisa de alemão, talvez seja porque eles realmente são muito práticos com tudo na vida, mas que vejo praticidade e nenhum desfile na academia, isso é verdade.
     Por fim, posso dizer que a experiência de frequentar uma academia está sendo, pela primeira vez na vida, não tão sofrida. É claro que começar a se exercitar exige uma certa força de vontade de pessoas como eu que não nasceram esportistas, e é claro também, que gosto dos resultados que vejo. Mas confesso que apesar de todos os pontos positivos, continua sendo muito difícil manter a disciplina de seguir me exercitando. É tão mais fácil se atirar na cama e ver um filme enquanto se come um bom sorvete...

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Benjamin Button

     Alguns dias atrás assisti "Benjamin Button". Tudo bem, sei que estou atrasada no assunto e no filme, mas azar. Quem não tem uma lista de filmes pra assistir? Bom, voltando, achei muito interessante a maneira como o roteiro se desenrola. Muito interessante pensar como seria a vida se o ciclo do nosso corpo acontecesse ao contrário. Pela perspectiva do filme, não me agrada muito. Não sei se todos perceberam que apenas o corpo dele vai no sentido contrário, mas seu conhecimento, suas vontades, seus desejos, obedecem a ordem cronológica dos anos do seu nascimento. Como seria ter aparência de 80 anos, mas a curiosidade e a inocência de uma criança de três? Chegar à adolescência física com a mentalidade dos 70? Sinceramente, não me parece uma boa troca já que os desejos, sonhos e energia característicos de um adolescente estariam há muito esquecidos no passado e a experiência e sabedoria de um adulto estaria presa no aparência de um adolescente que, todos sabem, nunca é muito levado a sério. Deve ser desesperador!
     Fiquei esses dias pensando sobre o assunto e lembrando da personagem "Daisy", a incrível Cate Blanchett (eterna "Elizabeth"), comentando o quanto é ruim envelhecer, o quanto ela não gosta de envelhecer e invejando a juventude de uma nadadora na piscina. Pensei bastante, mas cheguei à conclusão de que sim, envelhecer é chato e ninguém gosta disso, mas a natureza é sábia. Se seguíssemos como Benjamin Button, teríamos um espírito velho preso em um corpo infantil, ou um espírito infantil preso em um corpo idoso. Se, por outro lado, nossa mente e espíritos acompanhassem o desenvolvimento do corpo de Benjamin, ou seja, nasceríamos velhos mas sábios e, conforme rejuvenescessemos, perderíamos aos poucos a sabedoria e recuperaríamos a inocência; também não seria uma boa troca. Já pensou ir esquecendo tudo que se sabe e toda experiência vivida? Seríamos uma sociedade com "Alzheimer" generalizado, uma sociedade que perderia sua história mais e mais a cada geração. O curso natural de nossas vidas faz muito mais sentido se pararmos para analisá-lo dessa forma e envelhecer passa a não dar tanto medo e a ter de volta a vantagem da sabedoria.
     É, definitivamente, a natureza é sábia!

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A caminho da platina

     Dizem que quando resolvemos mudar nossa aparência, significa que estamos mudando por dentro. Bom, não é segredo que faz algum tempo que pretendo platinar o cabelo, mas quem me conhece sabe o quanto tenho medo de arriscar meus parcos e finos fios com cortes e tinturas, pois demoram anos (literalmente, anos!!!) para crescer de volta. Arrisquei duas vezes na vida uma mudança de loiro natural para ruivo. Fiz isso com aqueles xampus tonalizantes, estilo Wellaton. Na primeira vez, levei a coloração para um salão e pedi para fazerem lá, pois morria de medo de ficar com o cabelo todo manchado. Estava com 17 anos e, no colégio, algumas pessoas disseram que eu parecia com a Jessica Rabbit e outras que aparentava a Christiane F. No final, não ficou muito legal. Fui um nenê de cabelo loiro, praticamente branco; uma criança de cabelo loiro dourado cor do sol; uma adolescente de cabelos loiros dourados, ou seja, cores escuras realmente não são para mim. Infelizmente, depois dos 30, meu cabelo resolveu que queria escurecer e tornou-se um loiro escuro.


     A coragem pra clarear foi chegando aos poucos. Primeiro comecei usando os sprays clareadores sem amônia, feitos especialmente para cabelos loiros. Anos depois resolvi fazer luzes pela primeira vez. Sempre tive muito medo (e preconceito, confesso) de parecer loira falsa. Nada contra as loiras falsas, obviamente, contanto que o "loiro" delas seja bem executado. Mas meu medo é relacionado aqueles cabelos amarelos e/ou alaranjados que andam por ai. Bom, as primeiras luzes ficaram tão naturais que ninguém percebeu. Nem a minha mãe quando fui visitá-la percebeu que tinha feito algo. E olha que ela sempre presta atenção nas minhas madeixas!!! No ano seguinte (isso mesmo: um ano depois), fiz luzes novamente, um pouco mais claras. Dessa vez deu para perceber, mas ainda ficaram bem naturais.
     Aqui em Berlim resolvi arriscar e radicalizar. Fui até um cabelereiro reconhecido e disse para a colorista que queria ficar loira platinada. Ela me disse que meu cabelo era fino demais para suportar a agressão da química e que o máximo que poderia fazer eram luzes de dois tons diferentes, tentando chegar ao mais claro possível com o meu tipo de cabelo. Concordei, marquei a sessão e, no dia combinado, estava lá. Tremia por dentro de pensar que ficaria com aquelas luzes cinzas que muita gente tem por aí e que eu não gosto, mas estava decidida a arriscar. Qual não foi a surpresa quando 90 minutos depois, tirou-se a toalha do cabelo lavado e a cor dele molhado continuava a mesma? Quando secaram deu pra ver uma mudança, mas, novamente, sutil demais. Nem perto do "loiro mais claro possível" e bem no esquema natural demais. Pra ser sincera, o sol deixaria meu cabelo ainda mais claro do que as luzes da mulher se eu fosse à praia.
     Depois de muita frustração (afinal eu queria radicalizar pelo menos uma vez na vida!) e muitos euros gastos com o tal salão, resolvi tentar por mim mesma. Radicalizei geral. Pra quem não tinha coragem de fazer nada, tentar ficar platinada no esquema "faça você mesmo" é ultra radical! hehehe! Comecei a pesquisar na internet, ver vídeos de sucessos e fracassos, ler sites especializados, experiências pessoais, reportagens, etc. Decidi. Fui até a farmácia mais próxima e comprei uma caixa de L'Oreal Les Blondissimes Very Platinum e testei em uma mecha de cabelo. Não fez muita diferença. No dia seguinte comprei outra caixa da mesma série, mas dessa vez de "Extreme Platinum", e testei novamente. Funcionou muito melhor. O cabelo clareou bastante, não quebrou, não ficou cor de laranja e nem ressecado. Claro que ainda está distante de ser platinado, mesmo porque, platinar não é apenas descolorir. De qualquer forma, esse pequeno progresso me encorajou a realmente fazer na cabeça inteira.
     Calma que ainda não cheguei lá! Primeiro preciso recrutar alguém pra me ajudar com a parte de trás da cabeça pra ter certeza que não vou pular nenhum espaço. Mas quis relatar a tentativa aqui pra vocês. Conforme a coragem for crescendo e o platinado for progredindo, venho contar e, claro, mostrar pra vocês. Por enquanto, ficam as primeiras fotos.

(Depois da caixa de L'Oreal Les Blondissimes "Extreme Platinum").

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A língua

     Que alemão é uma língua estranha, isso todo mundo sabe. Que é difícil, também. Que tem um som divertido, talvez só eu ache. Mas tem suas peculiaridades e, algumas, são bastante divertidas e estranhas.
   Palavras todas juntas formando verdadeiros "palavrões" (por exemplo: Schwangerschafthütungsmittel, três palavras juntas que querem dizer nada mais, nada menos que "anticoncepcional") são típicos desse idioma tão rico. Mark Twain disse "Algumas palavras alemãs são tão compridas que possuem sua própria perspectiva". Mas além disso, o idioma tem algumas outras características engraçadas. Uma delas é o fato de ter alguns verbos específicos para determinadas ações, o que, pessoalmente, acho muito interessante. Aí vão alguns exemplos: 

faulenzen - fazer preguiça, seria algo como "preguiçar" em português.

frühstücken - tomar café da manhã (só serve para o café da manhã, então não poderia ser o meu querido e inventado "cafezar" que tanto uso com minhas amigas). A propósito, traduzido ao pé da letra, frühstück (café da manhã) significa "cedo pedaço", pessoalmente eu prefiro um "spätstuck" (tarde pedaço). Claro que essa palavra não existe oficialmente, mas aí está outra beleza da língua alemã: você pode inventar palavras colocando as já existentes juntas. Se eu falar "spätstuck" para alguém a pessoa irá entender embora a palavra não exista realmente. Legal, huh?

schmachten - suspirar por. 

        Bom, eu poderia citar vários outros exemplos aqui, mas só quis dar uma idéia.
      Outra coisa que acho bastante interessante é que, embora existam verbos tão específicos, não existem palavras para: ferver água, passar café. Ou seja, os alemães usam o verbo "cozinhar" para tudo, então eles: cozinham água, cozinham café, cozinham chá, etc. A chaleira elétrica que eles tanto amam (os alemães não vivem sem chaleira elétrica!!!) se chama Wasserkocher, ou, ao pé da letra, cozinhadora de água.

("Cozinhadora de água" e "cozinhador de café" em ação!)

      E os verbos que se dividem no meio??? Esses são de enlouquecer um. Imagina que você aprende o verbo e na hora de conjugar, precisa dividi-lo ao meio e colocar a primeira parte dele no fim da frase. Alguns exemplos:  

umsteigen - baldear: Fahrgäste nach Flughafen Tegel steigen bitte hier um. (Passageiros indo para o aeroporto Tegel, por favor, mudem aqui.)

aussehen - aparentar: Wie sieht dein Traumperson aus? (Como é a pessoa dos teus sonhos?)

     Uma das coisas que acho chata na língua é o fato de ter que escrever os substantivos sempre em letra maiúscula, o que não faz o mínimo sentido para falantes de português. Assim, no meio do texto, lá estão várias palavras com letras maíusculas. A única coisa boa dessa regra é que, quando se está aprendendo, pelo menos é fácil de identificar os substantivos, enquanto as outras classes de palavras tornam-se um pouco mais difíceis. Concordo com Mark Twain (de novo ele): "Entendo o alemão tanto quanto (entendo) o louco que o inventou, mas falo melhor através de interprete".
   Confesso que aprender alemão está sendo difícil até pra mim que tenho facilidade com idiomas. Imagino como sofre quem tem dificuldade!!! Mas é uma aventura e, quando conseguir me comunicar de verdade e ler nessa língua, será mais uma vitória conquistada.
     Mas, apesar de todas essas características interessantes e confusas, os germânicos (e não só eles) carecem de uma palavra muito importante: SAUDADE.


terça-feira, 20 de novembro de 2012

O início

    Ok... depois de muito pensar resolvi escrever algumas linhas sobre como anda a experiência por Berlim.
    Não é necessário dizer que alemão é difícil porque isso todo mundo sabe. Até pra mim que tenho facilidade em aprender idiomas tem sido um desafio, mas aos poucos vou conseguindo vencer os obstáculos.
    Bom, três meses atrás (exatamente!!!) cheguei em Berlim de mala, cuia, gatinhos e pai pra ficar um ano. Empolgadíssima pra experimentar a vida em um país estrangeiro por um tempo um pouco mais longo que meus parcos três meses em Fresno. Minha cabeça imaginava um apartamento pequenininho mas bem arrumado, aconchegante e em um prédio legal. Pois bem, chegamos na rua em que eu iria morar. Tudo parecia lindo, bem arrumado, a frente do prédio toda amarelinha com um café e floricultura no térreo, em um bairro proeminente da capital alemã. Parecia um lugarzinho de sonho. Qual não foi a minha surpresa (imagino que a do meu pai também! Coitado!) quando abrimos o portão do prédio e demos de cara com um pátio interno destruído, com um prédio literalmente caindo aos pedaços, completamente velho e sem ver a cara de uma reforma há anos. Ao entrar na porta dos fundos, que dava acesso ao meu apartamento no terceiro andar, a porta não passava de um pedaço de madeira destruída, a escadaria escura e pichada, um cheiro estranho, na verdade, tudo muito estranho! Fiquei chocada com o lugar. Sério: cho-ca-da! Imagino como meu pai não deve ter ficado, mas disfarçou muito bem. Eu coloquei a melhor cara que podia e fingi que tudo estava bem. Tentava, assim, tornar a situação menos desconfortável. Chegamos finalmente no apartamento, ao abrir, dei de cara com um apartamento que não tinha a pior das aparências, mas conforme os dias foram passando, percebi que também não tinha condições de ser habitado. A geladeira tinha cerca de 50cm x 50cm, ou seja, não dava pra guardar nada dentro. Parecia com aquelas geladeiras especialmente fabricadas para latinhas de cerveja e refrigerante de tão pequena. Não havia armários em parte alguma, as roupas ficavam em um cabide (onde não cabiam todas) ou nas malas, dificultando e muito a troca diária. Na cozinha também não tinha armário, e assim, não tinha lugar pra guardar a comida. O chuveiro precisava de 30 minutos (às vezes até mais) para esquentar a água e, na hora do banho, precisava ligar uma máquina barulhenta pra escoar a água durante o banho, caso contrário, transbordava.
    Era verão e, apesar de ser na Alemanha, havia a necessidade de abrir a janela, coisa que eu não podia fazer até que uma rede de proteção fosse instalada por causa do Petruchio e da Sophia. A "dona" do apartamento só deixou que instalasse a rede em uma das janelas (a peça única tinha três janelas). No início fiquei meio irritada com essa imposição dela, pois segunda a mesma, a rede modificava e deixava feia a aparência do prédio. Minha vontade era dizer: "Na boa?! Já prestaste atenção no prédio? A redinha não vai fazer a mínima diferença na aparência de um prédio que não vê reforma e/ou tinta há gerações!". Claro que fiquei quieta e não disse nada, pois sabia que sairia dalí assim que achasse outra opção mais viável. Bom, chegou finalmente o dia em que o cara foi instalar a redinha. Em uma janela que ele usa, normalmente, seis parafusos, ele precisou usar mais de 20 para segurar a dita cuja na parede, pois a parede caía aos pedaços grandes conforme ele furava. Consequência: a janela tinha, agora, uma redinha, mas eu não tinha confiança na parede do prédio pra segurar a rede e só abria a janela quando eu estava presente 100% do tempo no local.
Vista da janela para o pátio interno onde fica o apartamento.
     Além do banheiro, da cozinha, da falta de armários, da parede caindo, do chuveiro barulhento e demorado, o tal apartamento ainda não tinha aquecimento. Havia apenas um forno a carvão em um canto da peça única. Embora o aquecedor não estivesse sendo usado há meses, o apartamento tinha um certo cheirinho de carvão. Imagino que tudo deveria como comida defumada se viesse a realmente utilizar o tal aquecedor. Ou seja, em um apartamento de peça única, sem armários, sem ter onde guardar absolutamente nada, eu ainda teria que comprar e estocar carvão para o outono e inverno inteiros em algum canto no meio do apartamento. Além de ter que aprender a lidar com o aquecedor e ter que ficar horas tentando ajustar a temperatura do ambiente. Obviamente, no dia em que meu pai foi embora, entrei em crise.
     A necessidade de um novo apartamento tornou-se urgência! Ainda bem que, um mês após a chegada em Berlim, outro apartamento ficou disponível. Claro que o aluguel teve que subir um pouquinho para se conseguir algo em um estado melhor do que aquele "lugar". Hoje estou em um apartamento ainda em estilo "Kinder Ovo" mas sem surpresa! Muito bem cuidado, decorado e com tudo funcionando. A geladeira ainda poderia ser maior, mas dá pras minhas necessidades diárias. Armários para guardar as roupas e cozinha equipada. Consegui, enfim, relaxar depois de um mês por aqui. E, melhor ainda, antes do frio chegar! Mas fiquei impressionada como é possível que pessoas morem em um prédio onde as paredes estão, literalmente, caindo; sem aquecimento; em pleno século XXI, no coração do bairro mais proeminente da capital de um país civilizado só para dizer que moram em Prenzlauer Berg. Sinceramente, esse tipo de pensamento não dá pra mim!