terça-feira, 10 de junho de 2014

Entrevistas de Emprego

   
Fonte da imagem: onlinedegrees.com
     A primeira entrevista de trabalho em um país estrangeiro a gente nunca esquece!
     Era uma manhã ensolarada e quente de primavera em Montreal e lá fui eu para uma entrevista coletiva. No Brasil, entrevistas coletivas significam dinâmicas de grupo e vários exerciciozinhos chatos a serem realizados com ou sem os "coleguinhas". Saí de casa já psicologicamente preparada pra enfrentar a sabatina de chatices que essas dinâmicas trazem. Cheguei lá e, pra minha surpresa, ao invés de 30 pessoas esperando ansiosamente, eramos apenas 10. Entramos  na sala e me senti num "reality show" esquema "The Apprentice". Ao contrário de Donald Trump, os avaliadores eram simpáticos e sorridentes e, também, em número muito superior ao que costuma acontecer em território brasileiro. Para os 10 candidatos haviam seis avaliadores.
     Duas mesas compridas, uma de frente para a outra, se encontravam na sala com nossos lugares devidamente marcados por plaquinhas com nossos nomes. A primeira hora da entrevista coletiva foi uma apresentação da empresa, do trabalho para o qual estão contratando, das possibilidades de crescimento e do processo de seleção. Até aí, nenhuma novidade. A segunda parte começou com a apresentação individual dos candidatos. Deveríamos dizer nossos nomes, de onde somos e algum feito que nos traga realização e diga um pouco sobre nós.
     Começaram as apresentações e eu fui escolhida para ser a segunda. Fiz aquela apresentação básica: "meu nome é Flora Romero, venho do Brasil, estou cursando mestrado em história na McGill, blábláblábláblá", na hora da realização falei que me sinto orgulhosa de ter traduzido um livro fantástico sobre meio ambiente.Daí vieram os outros. Do "alto" dos seus 20 e pouquíssimos anos saíam vomitando cifras e mais cifras dos mais diversos motivos pelos quais arrecadaram dinheiro. Falavam aquelas coisas básicas (e ridículas) como "trabalho pesado e sou focado em metas". Eu apenas observava e pensava que tem tanta coisa mais interessante na vida... olhava ao redor e me via como um peixe fora d'água. Eu não tenho cifras pra falar, não ficarei enchendo a boca pra dizer que trabalho pesado porque quem já trabalhou comigo sabe e quem ainda não trabalhou vai descobrir, além do mais, sempre penso que, quem se enche demais acaba fazendo o oposto na hora "h".
     Saí da entrevista coletiva já sabendo que não seria chamada pra entrevista individual que aconteceria essa tarde. Era óbvio que eu não fazia parte daquilo ali. Saí com a certeza de que não nasci pro mundo dos negócios. Jamais serei alguém que sai falando números, ou contando vantagem sobre realizações. O que exatamente é uma realização? É algo tão pessoal. Algumas pessoas acreditam que ter feito muito dinheiro num determinado momento é algo de que se orgulhar e se gabar. Sem problemas. Eu jamais serei dessas pessoas. Pra mim, realizações são coisas que deixam a mente e o coração felizes. Trabalhar num navio do Greenpeace, aprender a ler, passar de ano em quimica/física/matemática, aprender vários idiomas, publicar um artigo, ver a sementinha que plantei virar uma planta e dar frutos, receber um elogio sincero por um personagem bem trabalhado, ver meu trabalho de tradução nos mais diversos lugares, ter participado do movimento escoteiro, aprender a tocar um instrumento musical (e/ou cantar), ter poucos mas sinceros amigos... essas são algumas das coisas que considero grandes realizações, e as guardo, bem guardadinhas, no coração.