quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Tschüß, Berlin!

     Há exatos 368 dias cheguei em Berlim e hoje termino meus dias nessa cidade que me acolheu por um ano.
     Não. Não sentirei saudade dos dias tristes, da dificuldade de fazer amigos, do peso emocional que me podou de diversas formas e em vários níveis. Também não sentirei falta da "bipolaridade" que afeta a população quando mudam as estações. Ou da obrigação que querem te impor de ir para a rua simplesmente porque faz sol.
Não. Não sentirei saudade das várias lágrimas derramadas e da dor que por meses afligiu meu coração e atormentou meus pensamentos. Também não sentirei falta da escuridão que tomou conta de mim e do peso que carreguei nos ombros por tanto tempo.  

     Choro. Choro por aquilo que gostaria que tivesse sido, que tivesse vivido, mas que não pôde ser.
     Entendo os ciclos do universo e acredito que, assim como na natureza, também na vida, após o inverno vem a primavera. E meu solo interior está fértil para a chegada dela. Foi um longo e tenebroso inverno.
    Berlim foi um lugar onde aprendi muito, principalmente sobre mim mesma. Muita coisa estranha aconteceu por aqui, em todos os sentidos. Mas também, coisas extremamente boas. Então... sim, sentirei saudades.


   Sentirei saudades do silêncio da cidade, das folhas coloridas cobrindo as calçadas durante o outono, dos caminhos escorregadios cheios de "sorvete de flocos" no inverno. Sim, sentirei saudade da primavera. A primavera mais exuberante, colorida e perfumada que já conheci.
Sentirei saudade das tulipas que brotam nos lugares mais inesperados, dos dentes-de-leão que cobrem cada pedacinho verde de grama e a transformam em um tapete amarelo; das milhares de flores do campo das mais variadas cores e dos mais incríveis perfumes. Sentirei saudade das nuvens de sementes sendo levadas pelo vento e que passam pela gente deixando as roupas grudadas de sementes menos afortunadas que encontraram, ao invés de terra, algodão e lã para se fixarem. Das sacadinhas floridas. Do vento fresco ao cortar caminho de bicicleta pelos vários parques da cidade e dos inúmeros tons de verde das árvores, heras e arbustos que neles se encontram.


     Sentirei saudade dos morangos doces, macios e perfumados que derretem na boca como pedacinhos do paraíso. Das framboesas e sua medida exata entre o doce e o azedinho. Das cerejas gigantes, escuras e deliciosas. Dos "pêssegos achatados" e cheirosos.
     Mas o que Berlim me trouxe de mais importante e especial, foi a oportunidade de passar dias incríveis ao lado de pessoas mais que importantes. 
Berlim proporcionou um reencontro histórico com duas pessoas que têm lugar cativo no meu coração.


Foi por estar aqui que minha mãe superou coisas extremamente difíceis para ela e veio até a antiga "cidade dividida" resgatar sua metade alemã.



Foi aqui que encontramos um de nossos irmãos de alma. 



Recebi muito mais visitas do meu pai do que esperava. 





Aqui recebi uma amiga muito querida que me deu o prazer de vê-la algumas vezes. 


Tive o privilégio de apresentar a cidade para a sobrinha-afilhada mais incrível que alguém poderia pedir aos céus.

    

 Assim, termino mais um ciclo da vida e que dele fiquem apenas os bons momentos. Graças à natureza e à incrível sorte que tenho em ter pessoas tão maravilhosas em minha vida, levarei essas lembranças comigo e, quando pensar no tempo que por aqui passei, são elas que virão à memória. Pois, estas fotografias do coração, são as que realmente valem a pena. E é hora de um novo capítulo.

sábado, 3 de agosto de 2013

Um dia no Mar Báltico

     Ontem fui, pela primeira vez, em uma praia alemã. Já estive em outras praias na Europa, mas apenas visitando rapidinho já que sempre venho para cá no inverno; mas nunca havia realmente visto como funcionam as coisas durante o verão e, confesso, achei engraçado.
     Logo na chegada já achei algumas coisas curiosas. Sim, sei que não estou em um país tropical e que as praias são diferentes. Mas, como diria Jack Estripador, vamos por partes. Primeiro, a praia em si. Logo ao chegar percebi que o mar não possui ondas. Quem entende de oceanos e seus níveis sabe o que significa um mar nível 1: sem ondas, parecido com um lago. A areia é branca e fina, mas com várias pedrinhas no meio. Ao invés de conchas na beira da água, apenas seixos e muita, mas muita, alga-marinha. Para se chegar à parte mais funda, cruza-se um verdadeiro tapete fechado de algas-marinhas em todas as suas formas e cores. É tão raso que se caminha muito até conseguir estar submerso até o pescoço. A água transparente e fria mas, por incrível que pareça, menos fria que a água de Ipanema e um tráfego intenso de barcos comerciais e turísticos cruzam o horizonte. Existe até uma rota turística específica que conecta sete países com construções góticas em tijolinhos através do Báltico: Suécia, Dinamarca, Alemanha, Polônia, Lituânia, Latvia e Estônia.
     Na Alemanha as pessoas lidam de uma forma diferente com o corpo. Na minha opinião, uma forma muito mais saudável. Um corpo é um corpo e só, mostrá-lo não significa nada, e eles lidam muito bem com o nu. Por aqui, especialmente no antigo lado oriental, é muito comum que as praias tenham o aviso "FKK" na entrada. "FKK" significa "Freikörperkultur", na tradução literal: cultura do corpo livre, ou, como se diz no Brasil, nudismo. Mas diferente do que acontece no hemisfério sul, aqui as praias "FKK" não são isoladas, são praias onde todos vão independente de praticarem ou não o nudismo. Embora eu acredite que seja muito saudável lidar com o corpo dessa forma, pessoalmente não consigo ficar nua em público e, confesso, é estranho mergulhar e, ao sair da água, dar de cara com uma pessoa pelada na sua frente. Mas a naturalidade com que os alemães lidam com isso faz com que fiquemos confortáveis com a situação. Diferente do que ocorre no litoral brasileiro, por aqui as praias não são local de paquera. Talvez por isso, essa relação com o corpo seja ainda mais livre e feliz. Crianças, jovens e velhos, com ou sem roupa de banho, se espalham pela areia da praia. 
     O sol, impiedoso no alto dos seus 40ºC não dava trégua e a areia se encheu de guarda-sóis, tecidos que formam cercas ao redor do "seu" pedaço de areia, barracas (isso mesmo, barracas de camping) e Strandkörben (literalmente "cestas de praia"). Por aqui as opções para se proteger do sol são mais numerosas. Não, não pensem que isso acontece porque eles têm a pele bastante branca pois não usam filtro solar. Aliás, vi apenas um casal passando filtro solar neles e nas crianças, no geral, o pessoal se joga na toalha e torra sem proteção alguma. Eu, com minha fotofobia e hipersensibilidade da pele ao sol, fiquei escondida dentro da minha "cesta de praia" observando o passar das horas e o tamanho da vermelhidão da pele das pessoas. Algumas já estavam tão vermelhas que eu só conseguia pensar: "ai, isso dói". Mas me impressionou foi a falta de cuidado com crianças pequenas. Várias pessoas sem proteção nem de um simples guarda-sol, com suas crianças de 1 ano já vermelhinhas depois de apenas alguns minutos sob os sol. 
As "cestas de praia" são invenções muito interessantes e práticas. A princípio, apenas olhando, achei que fossem desconfortáveis por sua aparência dura mas a verdade é outra. Feitas de vime, essas cadeiras fornecem uma sombra verdadeira que protege de verdade. Elas possuem almofadas para sentar e se encostar, apoiadores para pés e pode-se movimentar sua cobertura para deixá-las mais abertas ou fechadas. Caso esteja ventando muito (e o vento por aqui é fresquinho), elas protegem sem abafar. Pode-se também, ajustar o banco interno para que fique mais deitado ou mais em pé. E, para se bronzear nelas, basta virá-las na direção do sol. Realmente muito interessante.
     Outra coisa bastante curiosa pra quem está acostumada à água de coco, Mate Leão, Biscoito Globo, empadas e toda uma série de produtos alimentícios (e não alimentícios) sendo vendidos na praia não é o fato de não existirem vendedores ambulantes na areia porque sabemos que essa é uma característica das praias brasileiras e, principalmente, cariocas; mas o fato de estarmos na Alemanha e não ver quase ninguém bebendo cerveja. Eu imaginava que o pessoal aproveitava a praia para beber cerveja, se bem que por aqui, eles não precisam de desculpa pra isso. Mas durante o dia inteiro, vi apenas um cara bebendo cerveja. Em sua maioria, vi crianças comendo picolé (até aí, tudo bem) e pessoas bebendo café. É isso mesmo: café na praia! Nos trailers onde se alugam os guarda-sóis, cerquinhas, barracas e "cestas de praia", existe máquina de café. Que tal um cappuccino sob o sol? Ou então, um Late Macchiato acompanhado de Currywurst (salsicha com molho curry)?
     Se alguém disser que alemães não vão à praia porque não possuem boas praias, posso dizer que não é verdade. As praias alemãs são belas. Só precisamos aprender a admirar a beleza de uma geografia diferente da nossa, mas nem por isso menos ou mais bonita. Elas são lindas e os alemães as aproveitam muito. Do jeito deles, da maneira como lidam com tudo que envolve uma ida à praia, eles sabem aproveitá-las muito bem. Foi uma experiência muito interessante, divertida, educativa e, acima de tudo, tranquila.