quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Nem sempre as coisas são como se espera

      Nesses últimos dias parei para fazer um balanço desses três meses em terras alemãs. Posso dizer que o resultado, até agora, não foi dos melhores. O primeiro mês foi um esforço de adaptação que não deu certo. Adaptação não ao país, à língua ou às pessoas, mas adaptação a um apartamento minúsculo e destruído. Foi um primeiro mês difícil, muito difícil, onde só conseguia pensar que, talvez, tivesse tomado uma decisão errada. Era difícil cair na realidade do padrão de moradia em que me encontrava. Sem o mínimo do conforto necessário, como armários.
     O segundo mês começou melhor, em parte porque comecei a ter aulas e, então, já tinha algo pra fazer que tirava minha atenção do caos em que estava vivendo. Funcionou um pouco e por algumas semanas me senti melhor. Ao mudar de apartamento tudo melhorou ainda mais. Fiquei empolgada em ter um lugarzinho arrumado, aconchegante e que tem cara de casa (por menor que seja). Mas enquanto uma parte da vida melhorava, outra foi deteriorando. E, não tenho idéia de porquê. Só sei que é difícil. Extremamente difícil e não parece melhorar, pelo contrário. O que era pra ser leve e divertido, está pesado e sem razão.
      Agora percebo que estou aqui há três meses e nada do que me propus vir fazer aqui, foi feito. Aliás, não foi nem iniciado. Não sei por onde começar. Sinto como se tivesse minhas forças sendo sugadas, meu humor decaindo a cada dia, estou sempre cansada. Me sinto como se estivesse presa, acorrentada, querendo respirar, querendo sair do buraco, desesperadamente procurando por ar e sozinha. Não é necessário dizer que com tudo isso, pra quem nunca foi uma pessoa matinal, acordar às 6:30 tem se tornado cada vez mais difícil. Pizza e sorvete têm se tornado companheiros inseparáveis. Me vejo como Bridget Jones: "em um relacionamento sério com dois homens ao mesmo tempo. O primeiro chamado Ben e o outro Jerry's".
     Penso e repenso na decisão de ter vindo. Não, não me arrependo. Não me arrependo de fazer coisas que quero, mas sim de não a tê-las feito. Sou forte. Sempre fui. Faço as mudanças e tomo as decisões da minha vida e encaro as conseqüências delas. Ainda é cedo. Talvez seja banzo do terceiro mês e as coisas daqui a pouco melhorem. Quem sabe? Minhas "pequenas-imensas" alegrias peludas tornam a vida sempre melhor.

domingo, 25 de novembro de 2012

Café "Cazamiga"

     Podem me chamar de velha, antiquada, ou, como um amigo gosta de falar: "boring" (chata, em inglês), mas um dos programas que mais gosto de fazer é ir à uma cafeteria. A-do-ro sentar em um local interessante, pedir um café e ler um bom livro. Mas gosto mais ainda quando tenho a companhia de amigas de verdade, daquelas que aparecem poucas vezes na vida.
     Não é de se admirar que tenho sentido muita falta daquelas pessoas tão queridas e que fazem a vida da gente mais divertida, interessante e alegre. Aquelas criaturinhas que parecem ter surgido na nossa vida pra iluminar nossos caminhos. Pessoas essas que estão lá para o que der e vier: te dão colo nas horas tristes, abraços nos momentos fáceis e difíceis, conselhos, papo furado, risadas e, claro, também puxam a orelha e falam na lata algumas verdades que não vemos ou não queremos ver. Elas estão lá pra ti. E tu estás lá pra elas também.
     Minhas companheiras de café gostam da idéia de passarmos horas sentadas apenas saboreando delícias e aproveitando a companhia uma da outra. Para elas não tem tempo ruim, não tem programa chato, não tem tempo ruim, pois tudo que querem é passar tempo entre amigas. Essas pessoas fazem uma falta danada quando estão longe. Mas, ainda assim, não deixamos a distância se entrepôr entre nós. Quando chegar a hora de voltar, sei que elas estarão lá e nossa amizade continuará inabalada, forte. Voltaremos a tomar nosso café e dar nossas risadas. Assistir filmes juntas e cantar junto com a trilha sonora. Rir dos tropeços amorosos uma da outra. Compartilhar sonhos, esperanças, desejos e medos. Dançar, gargalhar e se divertir nas noites quentes de verão. Conversar sobre nós, o mundo, a vida. Divagar. Enfim... tudo aquilo que, à distância, não é possível fazer agora. E elas fazem falta... Ô como fazem!
     Pessoas como elas aparecem poucas vezes na vida, mas isso não é problema, pois quando aparecem é pra ficar. Às vezes elas acabaram de surgir, outras vezes, estão presentes desde que você se entende por gente. Os anos passam e elas continuam ali, oferecendo seu carinho, amizade, compreensão. Estejam elas onde estiverem, Rio, São Paulo, Brasília, Alemanha, ou na Lua, com certeza estão sempre perto do coração.


sábado, 24 de novembro de 2012

Academia é sempre um parto!

     Já faz algumas semanas que tenho frequentado uma academia perto de casa. Nunca fui muito fã de academias e continuo não sendo, mas pelo menos é algo para aproveitar meu tempo e me impedir de engordar com as guloseimas daqui.
     Uma das coisas que sempre me incomodou nesses lugares é a música alta. Nunca entendi porque toda academia precisa ter música "ambiente" alta. E, normalmente, a música é bem chata! Acho que as pessoas não entendem o conceito de "música ambiente". O som que vem das aulas nas salas de ginástica também é, normalmente, insuportávelmente alto. Os professores chegam ao cúmulo de usar microfone para dar aulas em salas que são menores que as encontradas em escolas. Ou seja, a poluição sonora nesses lugares é muito incômoda. Outra coisa é o público. Não consigo suportar aquelas pessoas que ficam se admirando no espelho, desfilando entre os aparelhos, fingindo que estar ali é a coisa mais interessante e empolgante do mundo.
     Bom, a necessidade de fazer exercício se fez presente e, como vivo em um Kinder Ovo, ficou difícil (quase impossível) fazer meus exercícios em casa. Com o inverno se aproximando andar de bicicleta pela rua também se tornou uma missão impossível, ao menos para mim. A solução foi procurar uma dessas "caixas de transformar corpos" espalhadas por ai. Escolhi uma bem perto e de acesso perfeito para ir logo após as aulas, senão, me conheço, não irei.
     A princípio o espaço se parece com todos os outros de academias grandes do mundo ocidental. Várias esteiras, bicicletas, simuladores de escadas, um ao lado do outro e todos virados para 11 televisões, cada uma com um canal diferente. Você pode escolher o canal e usar seu fone para ouvi-lo enquanto caminha/sobe-e-desce/pedala. Primeiro ponto positivo, já que ninguém é obrigado a ouvir o programa e pode, também, ouvir música se preferir. Segundo ponto a favor: as máquinas de musculação (pessoalmente as que mais detesto) ficam em um canto separado, sem espelhos as rodeando. Terceiro ponto positivo: existem espaços próprios para fazer abomináveis (ou, abdominais na linguagem correta) e outro para fazer o alongamento. Quarto ponto positivo: Apesar de a academia ter três salas de aula, não se escuta um só som vindo delas mesmo durante aulas enérgicas como spinning. Quinto ponto positivo, na parte dos aparelhos de musculação existe música ambiente, mas bem baixinha, o que não atrapalha se estiver ouvindo meu walk-man. Sexto ponto positivo: uma das professoras de Fit-Bo (algo que tenta seguir a linha de Body Combat) é gordinha. Acho o máximo que uma academia tenha professores gordinhos, já que eles também precisam emagrecer e se manter saudáveis e, não é porque estão um pouco acima do peso que não são bons profissionais. Sétimo ponto positivo e um dos melhores: depois da sua avaliação (muito mais fácil e simpática que as por mim já realizadas nas academias brasileiras) e de sua série elaborada, o instrutor te deixa em paz!!! Não fica cuidando da sua vida ao invés da dele. Claro que, se você estiver fazendo o exercício errado, ele vem te ajudar e corrigir mas, no geral, ele te deixa em paz pra aumentar a velocidade e altura da esteira, o peso das máquinas (claro, tudo com bom senso e bem explicado antes de você começar a se exercitar), etc. Por exemplo, a minha série nas máquinas é bem curta pois avisei o instrutor que simplesmente detesto puxar ferro. Ele acabou por me dar apenas 3 exercícios básicos: costas, peito e barriga, pernas eu já uso bastante com a quantidade de escadas desse país e o quanto ando, e eu aumentei por conta própria os 10 minutos de esteira que ele me deu para 30 andando e correndo pois andava muito mais que isso no Rio. Mas eu faço, além do que me foi dado, os exercícios dos vídeos da Jillian Michaels que possuo e já sei de cor, na área de abomináveis e ninguém vem me encher a paciência porque aquilo não faz parte da minha série. Essa é uma das coisas que está me mantendo firme e forte para frequentar a academia: liberdade.
     Entretanto, o que mais me chama a atenção é o público. Os caras bombados estão todos lá, as senhorinhas tentando manter a forma também, as patricinhas que nem depois de uma aula de spinning estão escabeladas também, enfim, o público é parecido mas a maneira de encarar o fato de se estar em uma academia é diferente. Não vejo pessoas se admirando no espelho, desfilando entre os aparelhos ou fazendo hora na academia. Todos parecem bem concentrados em seus exercícios e muito focados: chegam, trocam de roupa, começam os exercícios e seguem direto de um para o outro sem enrolação (respeitando apenas o tempo de descanso entre um e outro previamente instruídos pelo profissional responsável), terminam, trocam de roupa e vão embora. O público aqui é muito prático. Não sei se é coisa de alemão, talvez seja porque eles realmente são muito práticos com tudo na vida, mas que vejo praticidade e nenhum desfile na academia, isso é verdade.
     Por fim, posso dizer que a experiência de frequentar uma academia está sendo, pela primeira vez na vida, não tão sofrida. É claro que começar a se exercitar exige uma certa força de vontade de pessoas como eu que não nasceram esportistas, e é claro também, que gosto dos resultados que vejo. Mas confesso que apesar de todos os pontos positivos, continua sendo muito difícil manter a disciplina de seguir me exercitando. É tão mais fácil se atirar na cama e ver um filme enquanto se come um bom sorvete...

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Benjamin Button

     Alguns dias atrás assisti "Benjamin Button". Tudo bem, sei que estou atrasada no assunto e no filme, mas azar. Quem não tem uma lista de filmes pra assistir? Bom, voltando, achei muito interessante a maneira como o roteiro se desenrola. Muito interessante pensar como seria a vida se o ciclo do nosso corpo acontecesse ao contrário. Pela perspectiva do filme, não me agrada muito. Não sei se todos perceberam que apenas o corpo dele vai no sentido contrário, mas seu conhecimento, suas vontades, seus desejos, obedecem a ordem cronológica dos anos do seu nascimento. Como seria ter aparência de 80 anos, mas a curiosidade e a inocência de uma criança de três? Chegar à adolescência física com a mentalidade dos 70? Sinceramente, não me parece uma boa troca já que os desejos, sonhos e energia característicos de um adolescente estariam há muito esquecidos no passado e a experiência e sabedoria de um adulto estaria presa no aparência de um adolescente que, todos sabem, nunca é muito levado a sério. Deve ser desesperador!
     Fiquei esses dias pensando sobre o assunto e lembrando da personagem "Daisy", a incrível Cate Blanchett (eterna "Elizabeth"), comentando o quanto é ruim envelhecer, o quanto ela não gosta de envelhecer e invejando a juventude de uma nadadora na piscina. Pensei bastante, mas cheguei à conclusão de que sim, envelhecer é chato e ninguém gosta disso, mas a natureza é sábia. Se seguíssemos como Benjamin Button, teríamos um espírito velho preso em um corpo infantil, ou um espírito infantil preso em um corpo idoso. Se, por outro lado, nossa mente e espíritos acompanhassem o desenvolvimento do corpo de Benjamin, ou seja, nasceríamos velhos mas sábios e, conforme rejuvenescessemos, perderíamos aos poucos a sabedoria e recuperaríamos a inocência; também não seria uma boa troca. Já pensou ir esquecendo tudo que se sabe e toda experiência vivida? Seríamos uma sociedade com "Alzheimer" generalizado, uma sociedade que perderia sua história mais e mais a cada geração. O curso natural de nossas vidas faz muito mais sentido se pararmos para analisá-lo dessa forma e envelhecer passa a não dar tanto medo e a ter de volta a vantagem da sabedoria.
     É, definitivamente, a natureza é sábia!

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A caminho da platina

     Dizem que quando resolvemos mudar nossa aparência, significa que estamos mudando por dentro. Bom, não é segredo que faz algum tempo que pretendo platinar o cabelo, mas quem me conhece sabe o quanto tenho medo de arriscar meus parcos e finos fios com cortes e tinturas, pois demoram anos (literalmente, anos!!!) para crescer de volta. Arrisquei duas vezes na vida uma mudança de loiro natural para ruivo. Fiz isso com aqueles xampus tonalizantes, estilo Wellaton. Na primeira vez, levei a coloração para um salão e pedi para fazerem lá, pois morria de medo de ficar com o cabelo todo manchado. Estava com 17 anos e, no colégio, algumas pessoas disseram que eu parecia com a Jessica Rabbit e outras que aparentava a Christiane F. No final, não ficou muito legal. Fui um nenê de cabelo loiro, praticamente branco; uma criança de cabelo loiro dourado cor do sol; uma adolescente de cabelos loiros dourados, ou seja, cores escuras realmente não são para mim. Infelizmente, depois dos 30, meu cabelo resolveu que queria escurecer e tornou-se um loiro escuro.


     A coragem pra clarear foi chegando aos poucos. Primeiro comecei usando os sprays clareadores sem amônia, feitos especialmente para cabelos loiros. Anos depois resolvi fazer luzes pela primeira vez. Sempre tive muito medo (e preconceito, confesso) de parecer loira falsa. Nada contra as loiras falsas, obviamente, contanto que o "loiro" delas seja bem executado. Mas meu medo é relacionado aqueles cabelos amarelos e/ou alaranjados que andam por ai. Bom, as primeiras luzes ficaram tão naturais que ninguém percebeu. Nem a minha mãe quando fui visitá-la percebeu que tinha feito algo. E olha que ela sempre presta atenção nas minhas madeixas!!! No ano seguinte (isso mesmo: um ano depois), fiz luzes novamente, um pouco mais claras. Dessa vez deu para perceber, mas ainda ficaram bem naturais.
     Aqui em Berlim resolvi arriscar e radicalizar. Fui até um cabelereiro reconhecido e disse para a colorista que queria ficar loira platinada. Ela me disse que meu cabelo era fino demais para suportar a agressão da química e que o máximo que poderia fazer eram luzes de dois tons diferentes, tentando chegar ao mais claro possível com o meu tipo de cabelo. Concordei, marquei a sessão e, no dia combinado, estava lá. Tremia por dentro de pensar que ficaria com aquelas luzes cinzas que muita gente tem por aí e que eu não gosto, mas estava decidida a arriscar. Qual não foi a surpresa quando 90 minutos depois, tirou-se a toalha do cabelo lavado e a cor dele molhado continuava a mesma? Quando secaram deu pra ver uma mudança, mas, novamente, sutil demais. Nem perto do "loiro mais claro possível" e bem no esquema natural demais. Pra ser sincera, o sol deixaria meu cabelo ainda mais claro do que as luzes da mulher se eu fosse à praia.
     Depois de muita frustração (afinal eu queria radicalizar pelo menos uma vez na vida!) e muitos euros gastos com o tal salão, resolvi tentar por mim mesma. Radicalizei geral. Pra quem não tinha coragem de fazer nada, tentar ficar platinada no esquema "faça você mesmo" é ultra radical! hehehe! Comecei a pesquisar na internet, ver vídeos de sucessos e fracassos, ler sites especializados, experiências pessoais, reportagens, etc. Decidi. Fui até a farmácia mais próxima e comprei uma caixa de L'Oreal Les Blondissimes Very Platinum e testei em uma mecha de cabelo. Não fez muita diferença. No dia seguinte comprei outra caixa da mesma série, mas dessa vez de "Extreme Platinum", e testei novamente. Funcionou muito melhor. O cabelo clareou bastante, não quebrou, não ficou cor de laranja e nem ressecado. Claro que ainda está distante de ser platinado, mesmo porque, platinar não é apenas descolorir. De qualquer forma, esse pequeno progresso me encorajou a realmente fazer na cabeça inteira.
     Calma que ainda não cheguei lá! Primeiro preciso recrutar alguém pra me ajudar com a parte de trás da cabeça pra ter certeza que não vou pular nenhum espaço. Mas quis relatar a tentativa aqui pra vocês. Conforme a coragem for crescendo e o platinado for progredindo, venho contar e, claro, mostrar pra vocês. Por enquanto, ficam as primeiras fotos.

(Depois da caixa de L'Oreal Les Blondissimes "Extreme Platinum").

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A língua

     Que alemão é uma língua estranha, isso todo mundo sabe. Que é difícil, também. Que tem um som divertido, talvez só eu ache. Mas tem suas peculiaridades e, algumas, são bastante divertidas e estranhas.
   Palavras todas juntas formando verdadeiros "palavrões" (por exemplo: Schwangerschafthütungsmittel, três palavras juntas que querem dizer nada mais, nada menos que "anticoncepcional") são típicos desse idioma tão rico. Mark Twain disse "Algumas palavras alemãs são tão compridas que possuem sua própria perspectiva". Mas além disso, o idioma tem algumas outras características engraçadas. Uma delas é o fato de ter alguns verbos específicos para determinadas ações, o que, pessoalmente, acho muito interessante. Aí vão alguns exemplos: 

faulenzen - fazer preguiça, seria algo como "preguiçar" em português.

frühstücken - tomar café da manhã (só serve para o café da manhã, então não poderia ser o meu querido e inventado "cafezar" que tanto uso com minhas amigas). A propósito, traduzido ao pé da letra, frühstück (café da manhã) significa "cedo pedaço", pessoalmente eu prefiro um "spätstuck" (tarde pedaço). Claro que essa palavra não existe oficialmente, mas aí está outra beleza da língua alemã: você pode inventar palavras colocando as já existentes juntas. Se eu falar "spätstuck" para alguém a pessoa irá entender embora a palavra não exista realmente. Legal, huh?

schmachten - suspirar por. 

        Bom, eu poderia citar vários outros exemplos aqui, mas só quis dar uma idéia.
      Outra coisa que acho bastante interessante é que, embora existam verbos tão específicos, não existem palavras para: ferver água, passar café. Ou seja, os alemães usam o verbo "cozinhar" para tudo, então eles: cozinham água, cozinham café, cozinham chá, etc. A chaleira elétrica que eles tanto amam (os alemães não vivem sem chaleira elétrica!!!) se chama Wasserkocher, ou, ao pé da letra, cozinhadora de água.

("Cozinhadora de água" e "cozinhador de café" em ação!)

      E os verbos que se dividem no meio??? Esses são de enlouquecer um. Imagina que você aprende o verbo e na hora de conjugar, precisa dividi-lo ao meio e colocar a primeira parte dele no fim da frase. Alguns exemplos:  

umsteigen - baldear: Fahrgäste nach Flughafen Tegel steigen bitte hier um. (Passageiros indo para o aeroporto Tegel, por favor, mudem aqui.)

aussehen - aparentar: Wie sieht dein Traumperson aus? (Como é a pessoa dos teus sonhos?)

     Uma das coisas que acho chata na língua é o fato de ter que escrever os substantivos sempre em letra maiúscula, o que não faz o mínimo sentido para falantes de português. Assim, no meio do texto, lá estão várias palavras com letras maíusculas. A única coisa boa dessa regra é que, quando se está aprendendo, pelo menos é fácil de identificar os substantivos, enquanto as outras classes de palavras tornam-se um pouco mais difíceis. Concordo com Mark Twain (de novo ele): "Entendo o alemão tanto quanto (entendo) o louco que o inventou, mas falo melhor através de interprete".
   Confesso que aprender alemão está sendo difícil até pra mim que tenho facilidade com idiomas. Imagino como sofre quem tem dificuldade!!! Mas é uma aventura e, quando conseguir me comunicar de verdade e ler nessa língua, será mais uma vitória conquistada.
     Mas, apesar de todas essas características interessantes e confusas, os germânicos (e não só eles) carecem de uma palavra muito importante: SAUDADE.


terça-feira, 20 de novembro de 2012

O início

    Ok... depois de muito pensar resolvi escrever algumas linhas sobre como anda a experiência por Berlim.
    Não é necessário dizer que alemão é difícil porque isso todo mundo sabe. Até pra mim que tenho facilidade em aprender idiomas tem sido um desafio, mas aos poucos vou conseguindo vencer os obstáculos.
    Bom, três meses atrás (exatamente!!!) cheguei em Berlim de mala, cuia, gatinhos e pai pra ficar um ano. Empolgadíssima pra experimentar a vida em um país estrangeiro por um tempo um pouco mais longo que meus parcos três meses em Fresno. Minha cabeça imaginava um apartamento pequenininho mas bem arrumado, aconchegante e em um prédio legal. Pois bem, chegamos na rua em que eu iria morar. Tudo parecia lindo, bem arrumado, a frente do prédio toda amarelinha com um café e floricultura no térreo, em um bairro proeminente da capital alemã. Parecia um lugarzinho de sonho. Qual não foi a minha surpresa (imagino que a do meu pai também! Coitado!) quando abrimos o portão do prédio e demos de cara com um pátio interno destruído, com um prédio literalmente caindo aos pedaços, completamente velho e sem ver a cara de uma reforma há anos. Ao entrar na porta dos fundos, que dava acesso ao meu apartamento no terceiro andar, a porta não passava de um pedaço de madeira destruída, a escadaria escura e pichada, um cheiro estranho, na verdade, tudo muito estranho! Fiquei chocada com o lugar. Sério: cho-ca-da! Imagino como meu pai não deve ter ficado, mas disfarçou muito bem. Eu coloquei a melhor cara que podia e fingi que tudo estava bem. Tentava, assim, tornar a situação menos desconfortável. Chegamos finalmente no apartamento, ao abrir, dei de cara com um apartamento que não tinha a pior das aparências, mas conforme os dias foram passando, percebi que também não tinha condições de ser habitado. A geladeira tinha cerca de 50cm x 50cm, ou seja, não dava pra guardar nada dentro. Parecia com aquelas geladeiras especialmente fabricadas para latinhas de cerveja e refrigerante de tão pequena. Não havia armários em parte alguma, as roupas ficavam em um cabide (onde não cabiam todas) ou nas malas, dificultando e muito a troca diária. Na cozinha também não tinha armário, e assim, não tinha lugar pra guardar a comida. O chuveiro precisava de 30 minutos (às vezes até mais) para esquentar a água e, na hora do banho, precisava ligar uma máquina barulhenta pra escoar a água durante o banho, caso contrário, transbordava.
    Era verão e, apesar de ser na Alemanha, havia a necessidade de abrir a janela, coisa que eu não podia fazer até que uma rede de proteção fosse instalada por causa do Petruchio e da Sophia. A "dona" do apartamento só deixou que instalasse a rede em uma das janelas (a peça única tinha três janelas). No início fiquei meio irritada com essa imposição dela, pois segunda a mesma, a rede modificava e deixava feia a aparência do prédio. Minha vontade era dizer: "Na boa?! Já prestaste atenção no prédio? A redinha não vai fazer a mínima diferença na aparência de um prédio que não vê reforma e/ou tinta há gerações!". Claro que fiquei quieta e não disse nada, pois sabia que sairia dalí assim que achasse outra opção mais viável. Bom, chegou finalmente o dia em que o cara foi instalar a redinha. Em uma janela que ele usa, normalmente, seis parafusos, ele precisou usar mais de 20 para segurar a dita cuja na parede, pois a parede caía aos pedaços grandes conforme ele furava. Consequência: a janela tinha, agora, uma redinha, mas eu não tinha confiança na parede do prédio pra segurar a rede e só abria a janela quando eu estava presente 100% do tempo no local.
Vista da janela para o pátio interno onde fica o apartamento.
     Além do banheiro, da cozinha, da falta de armários, da parede caindo, do chuveiro barulhento e demorado, o tal apartamento ainda não tinha aquecimento. Havia apenas um forno a carvão em um canto da peça única. Embora o aquecedor não estivesse sendo usado há meses, o apartamento tinha um certo cheirinho de carvão. Imagino que tudo deveria como comida defumada se viesse a realmente utilizar o tal aquecedor. Ou seja, em um apartamento de peça única, sem armários, sem ter onde guardar absolutamente nada, eu ainda teria que comprar e estocar carvão para o outono e inverno inteiros em algum canto no meio do apartamento. Além de ter que aprender a lidar com o aquecedor e ter que ficar horas tentando ajustar a temperatura do ambiente. Obviamente, no dia em que meu pai foi embora, entrei em crise.
     A necessidade de um novo apartamento tornou-se urgência! Ainda bem que, um mês após a chegada em Berlim, outro apartamento ficou disponível. Claro que o aluguel teve que subir um pouquinho para se conseguir algo em um estado melhor do que aquele "lugar". Hoje estou em um apartamento ainda em estilo "Kinder Ovo" mas sem surpresa! Muito bem cuidado, decorado e com tudo funcionando. A geladeira ainda poderia ser maior, mas dá pras minhas necessidades diárias. Armários para guardar as roupas e cozinha equipada. Consegui, enfim, relaxar depois de um mês por aqui. E, melhor ainda, antes do frio chegar! Mas fiquei impressionada como é possível que pessoas morem em um prédio onde as paredes estão, literalmente, caindo; sem aquecimento; em pleno século XXI, no coração do bairro mais proeminente da capital de um país civilizado só para dizer que moram em Prenzlauer Berg. Sinceramente, esse tipo de pensamento não dá pra mim!