terça-feira, 17 de março de 2015

Um belo lugarzinho na ilha

 


     Nesses últimos dias de inverno tenho passeado bastante pelo bairro que chamo de meu desde que vim morar em Montreal. É um dos maiores bairros da cidade e, como acontece na maioria das metrópoles, foi uma cidade independente até ser anexado à Montreal. Passeando pelas ruas e descobrindo lindas relíquias de tempos já idos, resolvi pesquisar a história desse lugar, mais conhecido pelo estádio olímpico que por suas belezas, chamado Hochelaga-Maisonneuve. Talvez vocês também achem interessante.

     Em 1664, a congregação de São Sulpício se tornou dona desse terreno que hoje corresponde a Hochelaga-Maisonneuve. Eles dividiram o terreno em faixas perpendiculares ao rio e estabeleceram fazendas.

     Devido às dificuldades de navegação do rio Saint Laurent naquela época, as mercadorias dos navios eram desembarcadas mais ao norte e trazidas para a cidade pelo Chemin du Roy (hoje essa rua atravessa a cidade de norte a sul e se chama Rue Notre-Dame). Foi nesse "caminho do rei" que as primeiras casas à beira do rio foram construídas.

Antiga casa do banqueiro Maurice Cuvillier
     No início do século XIX, várias reformas foram feitas em Montreal, entre elas, melhoria do sistema de trens, de navegação, do porto e pavimentação da rua Notre-Dame para retardar a erosão causada pelas enchentes. A vila de Hochelaga também cresceu e, em 1870, foi oficialmente fundada. Os fazendeiros venderam suas terras e famílias de classe-média alta se mudaram para a região.

Georges Moore Memorial Home (asilo)

     A vila se expandiu rapidamente e os cofres públicos foram esvaziados devido às necessidades de construção de infraestrutura básica, como esgotos e aquedutos, assim, a idéia de anexar Hochelaga à cidade de Montreal, foi rapidamente aceita. Em 1883, Hochelaga já era parte de Montreal.

     Quando Hochelaga foi anexada à Montreal, um grupo de donos de terras, cujos nomes são ainda hoje bem conhecidos por aqui, resolveu criar uma cidade modelo baseada no movimento City Beautiful que se espalhava pelo país. Esse movimento promovia a criação planejada de beleza cívica através da harmonia arquitetônica, projeto unificado e variedade visual. Seguindo esse modelo, a cidade de Maisonneuve foi criada. O terreno foi dividido em retângulos onde seus criadores planejavam construir fábricas e grandes edifícios institucionais.

Prefeitura de Maisonneuve
     Entre 1896 e 1915, Maisonneuve cresceu rapidamente, sua política de isenção de impostos atraiu muitas fábricas, o que, por sua vez, atraiu muitos trabalhadores. O empresário e agricultor Charles-Théodore Viau sonhava em criar uma cidade modelo em suas terras (Viauville) e exigiu que os compradores de seus lotes construíssem casas com fachadas de pedra.

Banho público Maisonneuve
     A Grande Depressão (1929 - 1939) pesou sobre as fábricas e os trabalhadores do distrito, obrigando várias famílias a recorrer à assistência social. Projetos de obras públicas, incluindo a criação do Parque Morgan, visavam a criação de trabalho para os desempregados. Durante a Segunda Guerra Mundial, esses projetos foram suspensos e substituídos pela indústria de defesa, o que resultou na recuperação econômica da década de 1960.

Convento Hochelaga
     A construção de grandes infraestruturas de transporte, como a Highway 25, em 1967, e a rodovia leste-oeste demoliu cerca de 2.000 casas e edifícios institucionais, incluindo o impressionante convento de Hochelaga.
Muitas fábricas se mudaram para o leste, na região de Mercier (um antigo aglomerado das vilas de Beau-Rivage, Longue-Pointe e Tétreaultville, anexado à Montreal em 1910). Essas mudanças, combinadas com a mudança de capital e de produção para Toronto, prejudicaram a economia e a vitalidade do bairro. Muitas fábricas e residentes se mudaram da área.

Mercado Maisonneuve
     A chegada das Olimpíadas de 1976, transformou a paisagem arquitetônica do bairro, através da construção de alguns edifícios impressionantes. Durante os anos 1980 e 1990, o Mercado Maisonneuve, que estava fechado desde 1962, foi reaberto, e a primeira casa de cultura de Montreal (a Maison de la Culture) foi aberta onde antes funcionou a antiga prefeitura de Maisonneuve. Novos setores residenciais foram criados na extremidade norte do bairro.

American Can Co.
     Hoje, fábricas abrem espaço para uma indústria de serviços composta por pequenas e médias empresas. Hochelaga-Maisonneuve mantém uma ativa vida comunitária com seus cafés e bistrôs e organizações comunitárias e patrimoniais. A reabilitação da antiga fábrica American Can, várias melhorias e a revitalização gradual das ruas comerciais, incluindo a Promenades Sainte-Catherine e Rue Ontário, são outros sinais da renovação do bairro. Atualmente, a população de Hochelaga-Maisonneuve é composta, em sua maioria, de idosos e não têm tantas crianças quanto outros bairros de Montreal.
Localização do bairro em Montreal
   
A área de Hochelaga-Maisonneuve é delimitada a leste e oeste pela linha férrea paralela à Moreau e Vimont Streets e se estende da rua Sherbrooke, ao norte, à rua Notre-Dame Street, ao sul. Hochelaga-Maisonneuve foi integrado a outro bairro, Mercier e hoje, o nome completo do bairro é Mercier Hochelaga-Maisonneuve.

Maisonneuve, fundador de Montreal
Mercier refere-se ao aglomerado de vilas como dito anteriormente; Hochelaga é uma palavra indígena iroquois que significa "dique do castor" ou "lago do castor"; e Maisonneuve é uma homenagem ao fundador de Montreal, Paul de Chomedey, sieur de Maisonneuve, militar francês que fundou Montreal na, então, Nova França em 1642.
     Muitas das preciosidades arquitetônicas do bairro continuam de pé e em pleno funcionamento, Vale a pena visitar.



Avenida Morgan com Mercado Público Maisonneuve e torre do Estádio Olímpico ao fundo - inverno 2015




Fontes:
Héritage Montreal
The Canadian Encyclopedia
Musée McCord