sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Pés no chão?

     Outro dia tive um sonho interessante. Uma bactéria (ou vírus, sei lá) estava atacando as pessoas e elas iam perdendo pedaços inteiros do corpo e continuavam vivas até que o corpo se despedaçasse totalemente. E todos tínhamos que tentar não encostar no chão. Não adiantava subir em árvores, ou nada que tivesse contato com o chão, então, o jeito era achar uma maneira de ficar flutuando por aí. No meu sonho, era uma bicicleta (olha que não assisto E.T. há anos!) que precisávamos pedalar loucamente pra que ela não saísse do ar. Na bicicleta estávamos meu pai, eu e um monte de pessoas desconhecidas. Lembro de pensar que minha mãe estava a salvo em algum lugar. Olhando lá de cima para a terra, via-se pedaços de pessoas espalhados por todo canto. Nojento!
     Contei esse sonho pra minha mãe. A interpretação dele por ela foi muito interessante. Como é bom ter uma astróloga genial na família! Ela me deu duas interpretações que fizeram bastante sentido. A primeira, a interpretação do sonho como uma visão coletiva da humanidade, achei que bem cabia ao momento atual do mundo com tantas mudanças acontecendo (concretas e de mentalidades). Parece mesmo que estamos perdendo pedaços nossos pelo caminho, mas, a meu ver, essas perdas são necessárias para o surgimento de novas formas de lidar com o próximo e com o planeta. Mas a segunda interpretação, a individual, foi a que mais ficou rodando na minha cabeça. Ela me disse que talvez eu não queira colocar os pés no chão porque senão terei que perder partes minhas, e meu pai me ajuda a ficar flutuando sem pousar.
     Fiquei pensando bastante sobre essa segunda interpretação e nunca imaginei que alguém, um dia, me diria que eu não coloco nunca os pés no chão. Se um leão-áries-câncer não coloca os pés no chão, o que dizer de alguém ar-ar-ar??? Eu sei que não sou a pessoa mais "aterrada" do mundo, mas também não sou a mais voadora. Mas o mais importante: o que significa colocar os pés no chão? Significaria ficar na mesma cidade por toda a vida, trabalhando em qualquer coisa que não dê o mínimo prazer só para pagar contas? Ou não tentar realizar nenhum dos nossos sonhos porque sonhos são hetéreos e não concretos? Mas não devemos tentar realizá-los? Ou seria não aceitar desafios, não correr riscos, viver em linha reta?
     Crescemos ouvindo que devemos sonhar e ir atrás dos nossos sonhos, bem como ouvir nosso coração. E foi isso que fiz minha vida inteira: ir atrás dos meus sonhos, tentar realizá-los, e ouvir meu coração. Sempre acreditei que todos deveriam fazer isso, e continua acreditando que, se a humanidade realmente seguisse seu coração, o mundo seria um lugar bem mais agradável.
     Continuo pensando no assunto e não consigo chegar à uma conclusão. Então, o que realmente significa "colocar os pés no chão"?

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Um pouco de História

     O que é Berlim senão a história contemporânea viva e latente? Que outra cidade do mundo possui uma história recente tão complexa e, mais ainda, tão famosa? Um dia desses fui dar uma passeadinha por aí e ver algumas coisas que turistas, normalmente, passam direto.

     Nesse local funcionou o que ficou conhecido como "Aktion T4", ou "Ação T4" em português. De 1939 a 1941 os nazistas levaram adiante o projeto que ficou conhecido por esse nome. A maioria das vítimas - homens, mulheres e crianças - eram pessoas com deficiência mental ou física que, sob a perspecitiva de uma raça pura e de uma nação saudável (ideologias do Nacional Socialismo) eram consideradas inaptas para viver. Após as "avaliações" dos pacientes, que incluíam a qual "raça" estes pertenciam, aqueles julgados incapazes de trabalhar eram enviados para um dos seis centros da Aktion T4: Bernburg, Brandenburg, Grafeneck, Hadamar, Hartheim e Pirna-Sonnenstein onde eram assassinados. A Ação T4 foi a única iniciativa nazista que conheceu o protesto públicos em larga escala e por isso foi abandonada, mas então, mais de 70 mil pessoas já haviam sido mortas, entre elas "desajustados sociais", delinquentes e homossexuais. Mais tarde descobriu-se que, embora oficialmente extinta, a Ação T4 foi levada adiante em outros locais, como campos de extermínio. Mais de 200 mil pessoas foram assassinadas pela Ação T4 e outros programas de "eutanásia" do Terceiro Reich. O nome "T4" refere-se ao endereço da casa que sediava a Ação: Tiergartenstrasse 4. Hoje a casa não existe mais e essa área é ocupada pelo Kultuforum e a Filarmônica de Berlim.



Monumento a Johann Georg Elser

  Johann Georg Elser nasceu em 1903, em Hermaringen, Alemanha, e passou parte de sua adolescência durante a Primeira Guerra Mundial. Em 1938 a Alemanha parecia novamente caminhar em direção à guerra e Elser ficou apreensivo que isso pudesse acontecer. Embora Hitler, então, proclamasse a paz, Elser não acreditava nele e acreditava que era necessário remover os líderes nazistas do poder através do assassinato destes.
    Para descobrir como fazê-lo, Elser viajou para Munique, em 8 de novembro de 1938, para participar do discurso anual que Hitler fazia no dia do aniversário da sua frustrada tentativa de tomada de poder em 1923. Georg Elser percebeu que o evento não possuia uma segurança eficiente, o que facilitaria suas idéias. Nessa mesma noite ele presenciou, também, a explosão de violência contra os judeus que ficou conhecida como "Noite dos Cristais". Essa foi a gota d'água que faltava para que ele se convencesse de que uma liderança capaz de incitar tal violência levaria o país à guerra e que apenas a morte de Hitler evitaria isso. Elser escolheu, então, o mesmo evento no ano seguinte para realizar seu plano: assassinar Hitler explodindo uma bomba durante seu discurso na Bürgerbräukeller.
     Algumas semanas antes do discurso de aniversário Elser viajou para Munique. Por mais de um mês ele frequentou o local, ficou amigo dos garçons e conseguiu uma maneira de ali permanecer mesmo depois do horário de serviço. Durante esse período ele conseguiu fazer um buraco na pilastra atrás do pulpito e colocou a bomba ali.
     Devido ao início da guerra Hitler decidiu cancelar o discurso, mas depois voltou atrás contanto que estivesse de volta em Berlim na mesma noite. Ele costumava discursar das 20:30 às 22:00, mas naquele dia, devido à neblina, os aviões não podiam decolar e o "Führer" precisou retornar à Berlim de trem, fazendo com que precisasse encurtar seu discurso. Assim, Hitler deixou a Bürgerbräukeller 13 minutos antes da bomba de Elser explodir.
      Georg Elser tentou fugir para a Suíça e foi detido pela polícia de imigração. Embora os policiais não desconfiassem que ele estivesse envolvido no atentado, após encontrarem cartões postais da cervejaria em seu casaco ele foi associado à explosão e, então, enviado para Munique. Na capital da Baviera Elser foi interrogado pela Gestapo, mas permaneceu em silêncio e negou qualquer envolvimento na explosão. Garçons identificaram Elser como frequentador assíduo do local e, mais tarde, ele acabou confessando. Após sua confição, Elser foi transferido para o quartel-general da Gestapo, em Berlim, onde foi torturado. O líder da SS, Heinrich Himmler, não conseguia acreditar que um homem simples, com pouca instrução, fosse capaz de quase assassinar Hitler sem ter cúmplices. Elser foi enviado ao campo de Sachsenhausen (em Berlim) e depois para Dachau (próximo à Munique) onde foi morto em 1945. Anos mais tarde foi confirmado que Elser arquitetou tudo sozinho, sem ajuda de ninguém.

"Ich habe der Krieg verhindern wollen."
("Eu queria evitar a guerra.")