terça-feira, 24 de setembro de 2013

Montreal ou Como sobreviver sem desodorante roll-on

     Depois de morar um ano em Berlim e mudar, novamente, para um lugar desconhecido, com outra cultura e outra língua, a comparação tornou-se inevitável. Sei que cada cidade tem sua própria história, seu próprio contexto mas, ainda assim, me senti compelida e expressar tais comparações.
     Embora Montreal possua latitude mais ao sul (45°30'N) do que Berlim (52°31'N), a média de temperatura é mais baixa. Talvez isso se deva por Montreal ser uma ilha no meio do rio São Lourenço. Além do mais, Berlim tem umidade relativamente baixa e Montreal, ao contrário, é úmida, fazendo com que a sensação térmica seja, durante o verão, maior, e durante o inverno, menor do que a temperatura oficial. Mas questões climáticas e geográficas não são tão importantes nesse momento. O que me interessa mesmo é falar um pouco sobre minha experiência até agora.

     Montreal é uma cidade muito interessante, com bairros que diferem completamente um do outro ao ponto de se pensar que poderiam ser cidades diferentes. Onde moro, por exemplo, o bairro é residencial, cheio de casinhas e prédios como o meu: com dois andares e subterrâneo, onde cada andar é um apartamento (ou dois no segundo andar).

Foto: http://www.utexas.edu
Já o bairro mais conhecido da cidade, o Plateau Mont-Royal, é caracterizado pelos prédios baixos com acesso ao segundo andar pelo lado de fora. Essa talvez seja a imagem mais famosa de Montreal: as antigas casas de operários com suas escadinhas saindo diretamente na calçada. Agora, o centro da cidade é uma profusão de prédios modernos se mesclando aos prédios antigos e, bem ali, fica o campus da McGill University (ou como dizem os francófanos: Mêguil).
Centro de Montreal visto do Campus da McGill
     Uma das coisas que me impressionou logo que cheguei mas, infelizmente, no mau sentido, foi o barulho da cidade. Sim, morei 9 anos no Rio de Janeiro que é uma cidade bastante barulhenta, mas o ano passado em Berlim me fez esquecer o que isso significava, já que lá, a cidade é tão silenciosa que nem parece cidade grande. Na chegada em Montreal o barulho foi, decididamente, uma surpresa inesperada. Não apenas o barulho dos carros pela rua, mas tudo é bastante barulhento. As descargas e secadores de mãos dos banheiros públicos, os ônibus, as ruas, e o metrô. Ah, o metrô é ensurdecedor! Aliás, o dito cujo é uma experiência única por si só: além do barulho ensurdecedor, ele possui pneus nos carros (nunca tinha visto isso antes), faz curvas, sobe e desce (ok, sei que todos devem fazer, a diferença é que aqui se sente tudo isso dentro do vagão), e freia. Ô se freia!!! Às vezes as freadas são tão fortes que chegam a assustar. E,
Foto: http://en.wikipedia.org/wiki/Montreal_Metro
diferente de Berlim, as estações não possuem elevadores. Se por lá já era necessário colocar as pernas pra funcionar, aqui então, é pernas pra que te quero! Apenas quatro estações possuem elevadores, todos nas últimas estações da linha laranja.
     Outra coisa que me surpreendeu foi o preço das coisas. Depois de morar em uma cidade relativamente barata, Montreal foi um susto. Não sei se eu esperava um padrão de preços no esquema Estados Unidos, ou seja, também barato, mas com certeza não esperava os valores que encontrei. E, lembrando, o preço mostrado no produto não é o total final, pois 15% de imposto incidem na hora do pagamento no caixa. Ah! E pra quem ama queijos, como eu, a diversidade dos queijos na Alemanha é de encher os olhos e manter o bolso quase intacto. Aqui, as opções são mais restritas, e os preços bem altos. Adeus camembert de forno! 
     Como uma cidade do "Novo Mundo", o apelo automobilístico é grande, e ciclovias são raras. No centro elas estão por toda parte, mas fora dali a coisa muda de figura. Não se vê tanto ciclista e raras pessoas usam suas bicicletas como meio de transporte diário como em Berlim. Isso era uma das coisas que eu mais gostava em terras germânicas: poder ir a todo lugar de bicicleta e me sentir segura sabendo que não iriam passar por cima de mim com um carro. Mas claro, lá a cultura ciclística é bem mais forte do que por essas bandas. Existem iniciativas de bicicletas de aluguel, como as do Itaú no Rio, na saída das estações de metrô mas falta a infraestrutura para tornar a bicicleta um real instrumento de transporte e não apenas de lazer.
     Outra diferença gritante é o domingo. Isso mesmo: domingo! Enquanto em Berlim tudo fecha e não se tem nem supermercado aberto, por aqui tudo abre. Os montrealenses passeiam pelos parques, vão ao cinema, ao jardim botânico, mas também aproveitam o dia para compras. Nesse sentido é bastante parecido com as grandes cidades do Brasil.
     Diferente do que acontece no norte da Europa, não se vê tanta gente atirada pelos gramados da cidade em dias de sol. Claro, sempre tem alguém lagarteando, mas no geral, não tantos como nos parques europeus. O local onde mais vi isso acontecer foi no campus da faculdade, onde as pessoas aproveitavam o intervalo entre as aulas pra se aquecerem um pouco ao sol enquanto o clima ainda permite.
Foto: eng.wikipedia.org
     
Uma das grandes sacadas de Montreal é a "cidade subterrânea": uma rede de passagens por debaixo dos prédios do centro interligando shoppings, galerias, teatros, prédios residenciais e escritórios, etc. Pra se ter uma idéia, a cidade subterrânea possui 32km, acesso à 7 estações de metrô, 2 estações de trem, uma rodoviária, e possui mais de 120 acessos pelo lado exterior. Para uma cidade onde os invernos
Ligação da Place-des-Arts com o metrô
Foto: en.wikipedia.org
podem chegar à quase -40ºC, nada melhor do que poder ir do metrô diretamente para seu destino sem precisar colocar o nariz pra fora, não?
     No mais, Montreal é legal. As pessoas são simpáticas e prestativas, os serviços podem não apresentar a eficiência germânica, mas funcionam e atendem bem a população. A cidade é bem cuidada e arborizadas com vários parques para passear. O fato de abrigar quatro universidades de renome e vários "colleges" a torna uma cidade vibrante e com atrações para todos. Cafés se espalham em cada esquina e alguns funcionam 24 horas. Pra quem gosta desse tipo de programa, como eu, a cidade é excelente!
     Sim, eu sei que não deveria ter comparado Montreal e Berlim, pois é como comparar alhos com bugalhos, mas é inevitável. Depois que estamos acostumados a viver de uma certa forma, é impossível não fazer comparações. Tento restringir as comparações ao que mais me surpreende, e, aos poucos, vou me adaptando à nova vida e deixando elas de lado.
     E o desodorante roll-on? Só duas marcas oferecem 1 perfume nesse formato. Pois é... complicado.