domingo, 22 de dezembro de 2013

Natal


     Falem o que quiserem, mas eu adoro tradições natalinas. Decorações se espalhando por cada canto da casa, cardápio especial e a felicidade de montar o pinheirinho. Sim, eu adoro tudo isso!

     Quando criança os natais eram na casa da vovó, no sul do Brasil. Pra mim era mais que Natal, era mágico. O pinheiro montado no cantinho da sala parecia o maior e mais lindo que existia! E, embora não tivéssemos aquela ceia tradicional, ainda assim o cardápio da noite era diferenciado. Delícias que eram feitas para aquela ocasião se espalhavam pela mesa. Era tão bom ver o rosto do meu vovô iluminado pelas velinhas no pinheiro e pelo amor que sentia pelas mulheres da sua vida: minha avó, mãe, tia, e nós, as quatro netas. Era um dia especial, brincávamos na rua com as outras crianças da vizinhança, dia de dormir tarde (ou ao menos, mais tarde que o normal), de expectativa pelos pacotinhos lindamente embrulhados que nos aguardavam. Nem o calor das noites de verão rio grandenses atrapalhava a magia daquela que era, pra mim, a melhor noite do ano.

     A vida inteira sonhei que um dia teria minha casa inteira decorada, como em filmes, e, se possível, neve do lado de fora da janela. Sim, sempre sonhei com Natal de filmes. Esse ano passarei o primeiro Natal branco da minha vida. Bem branco! Na sacada do quarto tem mais de 60cm de neve e, mesmo que não caia mais até dia 24, também não irá
Ceia especial nem que seja pra um.
derreter, ou seja, o Natal será branquinho, branquinho. A casa ainda não está totalmente decorada como nos meus sonhos, não por falta de vontade... mas o cantinho do pinheiro está ali, me fazendo sorrir. Aliás, no dia que saí pra buscar um pinheirinho, voltava pra casa trazendo no carrinho aquela arvorezinha viva quando começou a nevar. Um sorriso se abriu no meu rosto. Não sei nem explicar a satisfação de estar carregando o maior símbolo do Natal (ao menos pra mim) sob a neve. Parecia que fazia todo o sentido do mundo!
     Sei que pode parecer bobagem pra muita gente, mas cada um tem seus sonhos e a importância deles é pessoal. O meu sonho de Natal ainda é calorzinho dentro de casa, com muitos sorrisos e abraços sem pressa, uma festa que entre noite adentro, uma mesa cheia de guloseimas especiais feitas para um dia especial, casa inteiramente enfeitada, pinheirão decorado e o mundo branquinho lá fora.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Preparando para o inverno

     Vindo de um país tropical, não tinha a mínima idéia de como as pessoas se preparam para o inverno. Como todos sabem, passei um ano em Berlim, cidade que dizem ter um inverno rigoroso para os padrões tropicais. Mas por lá a estação foi menos intensa e, definitivamente, menos branca.
   
Algumas semanas atrás comecei a notar diferenças na paisagem de Montreal. Eram as pessoas se preparando para a neve que, inevitavelmente, chegaria em algum momento. Não presenciei isso em Berlim. Talvez porque a incidência de neve ser menor, mas o fato é que a única diferença que vi por lá foi o pessoal trocando os pneus por pneus de inverno, e fontes serem cobertas por tapumes de madeira. Aqui em Montreal é diferente.
Moro numa região bem residencial com muitas casas e prédios com apenas três apartamentos. Talvez por isso tenha sido mais fácil observar o comportamento das pessoas durante a mudança do verão para o outono e, agora, para o inverno.
   
Um dia, caminhando pela rua, percebi que uma casa tinha um toldo branco saindo da garagem. Achei estranho. No fim de semana seguinte, quase todas as casas e prédios tinham esses mesmos toldos. E o mais engraçado são os apartamentos subterrâneos: a entrada do apartamento é cercada de toldo por todos os lados e parece que se está entrando em um cenário de filmes como "Epidemia". Plantas são protegidas, escadas ganham piso de borracha, corrimãos e pisos das varandas são trocados e, onde antes não existiam, colocados.
     Quando a neve finalmente aparece, percebe-se outras coisas. Nos prédios, cada um é responsável pela remoção da neve na sua sacada e, nas áreas comuns, o encarregado pelo edifício. Nas casa, claro, cada um lida com a neve como bem entende. Em frente à janela do meu quarto tem uma casinha linda onde mora um casal de velhinhos. Todo dia que neva, um carro vermelho chega por volta das 9:00, e de dentro sai um homem armado de pá, vassoura e um tipo de carrinho de mão feito especialmente para neve. Ele limpa a entrada da casa, o caminho até a calçada, a garagem, sacode o toldo sobre o carro, e limpa a saída da garagem até a rua. Depois, entra no carro e vai embora.
Nunca o vi conversando com os donos da casa, acho que deve ser uma pessoa contratada para fazer esse serviço pra quem já cansou de fazê-lo por anos a fio.
     Até agora não vi diferença no comportamento dos montrealenses simplesmente porque a estação mudou, como acontece em Berlim. Por aqui, não existe bipolaridade sazonal. Continuo vendo sorrisos pela rua, pessoas felizes arrumando jardins, portas e janelas para o Natal e crianças se atirando em todo e qualquer morrinho de neve que aparece no caminho. Vizinhos se cumprimentam, brincam, dão gargalhadas e dividem café enquanto retiram a neve da frente de suas casas. Na rua, pedestres se entreolham e riem uns para os outros pelo fato de estarem só com o rosto descoberto. Desconhecidos passam e falam com um sorriso no rosto: "froid, huh?". E eu? Simplesmente amando tudo isso.