terça-feira, 20 de novembro de 2012

O início

    Ok... depois de muito pensar resolvi escrever algumas linhas sobre como anda a experiência por Berlim.
    Não é necessário dizer que alemão é difícil porque isso todo mundo sabe. Até pra mim que tenho facilidade em aprender idiomas tem sido um desafio, mas aos poucos vou conseguindo vencer os obstáculos.
    Bom, três meses atrás (exatamente!!!) cheguei em Berlim de mala, cuia, gatinhos e pai pra ficar um ano. Empolgadíssima pra experimentar a vida em um país estrangeiro por um tempo um pouco mais longo que meus parcos três meses em Fresno. Minha cabeça imaginava um apartamento pequenininho mas bem arrumado, aconchegante e em um prédio legal. Pois bem, chegamos na rua em que eu iria morar. Tudo parecia lindo, bem arrumado, a frente do prédio toda amarelinha com um café e floricultura no térreo, em um bairro proeminente da capital alemã. Parecia um lugarzinho de sonho. Qual não foi a minha surpresa (imagino que a do meu pai também! Coitado!) quando abrimos o portão do prédio e demos de cara com um pátio interno destruído, com um prédio literalmente caindo aos pedaços, completamente velho e sem ver a cara de uma reforma há anos. Ao entrar na porta dos fundos, que dava acesso ao meu apartamento no terceiro andar, a porta não passava de um pedaço de madeira destruída, a escadaria escura e pichada, um cheiro estranho, na verdade, tudo muito estranho! Fiquei chocada com o lugar. Sério: cho-ca-da! Imagino como meu pai não deve ter ficado, mas disfarçou muito bem. Eu coloquei a melhor cara que podia e fingi que tudo estava bem. Tentava, assim, tornar a situação menos desconfortável. Chegamos finalmente no apartamento, ao abrir, dei de cara com um apartamento que não tinha a pior das aparências, mas conforme os dias foram passando, percebi que também não tinha condições de ser habitado. A geladeira tinha cerca de 50cm x 50cm, ou seja, não dava pra guardar nada dentro. Parecia com aquelas geladeiras especialmente fabricadas para latinhas de cerveja e refrigerante de tão pequena. Não havia armários em parte alguma, as roupas ficavam em um cabide (onde não cabiam todas) ou nas malas, dificultando e muito a troca diária. Na cozinha também não tinha armário, e assim, não tinha lugar pra guardar a comida. O chuveiro precisava de 30 minutos (às vezes até mais) para esquentar a água e, na hora do banho, precisava ligar uma máquina barulhenta pra escoar a água durante o banho, caso contrário, transbordava.
    Era verão e, apesar de ser na Alemanha, havia a necessidade de abrir a janela, coisa que eu não podia fazer até que uma rede de proteção fosse instalada por causa do Petruchio e da Sophia. A "dona" do apartamento só deixou que instalasse a rede em uma das janelas (a peça única tinha três janelas). No início fiquei meio irritada com essa imposição dela, pois segunda a mesma, a rede modificava e deixava feia a aparência do prédio. Minha vontade era dizer: "Na boa?! Já prestaste atenção no prédio? A redinha não vai fazer a mínima diferença na aparência de um prédio que não vê reforma e/ou tinta há gerações!". Claro que fiquei quieta e não disse nada, pois sabia que sairia dalí assim que achasse outra opção mais viável. Bom, chegou finalmente o dia em que o cara foi instalar a redinha. Em uma janela que ele usa, normalmente, seis parafusos, ele precisou usar mais de 20 para segurar a dita cuja na parede, pois a parede caía aos pedaços grandes conforme ele furava. Consequência: a janela tinha, agora, uma redinha, mas eu não tinha confiança na parede do prédio pra segurar a rede e só abria a janela quando eu estava presente 100% do tempo no local.
Vista da janela para o pátio interno onde fica o apartamento.
     Além do banheiro, da cozinha, da falta de armários, da parede caindo, do chuveiro barulhento e demorado, o tal apartamento ainda não tinha aquecimento. Havia apenas um forno a carvão em um canto da peça única. Embora o aquecedor não estivesse sendo usado há meses, o apartamento tinha um certo cheirinho de carvão. Imagino que tudo deveria como comida defumada se viesse a realmente utilizar o tal aquecedor. Ou seja, em um apartamento de peça única, sem armários, sem ter onde guardar absolutamente nada, eu ainda teria que comprar e estocar carvão para o outono e inverno inteiros em algum canto no meio do apartamento. Além de ter que aprender a lidar com o aquecedor e ter que ficar horas tentando ajustar a temperatura do ambiente. Obviamente, no dia em que meu pai foi embora, entrei em crise.
     A necessidade de um novo apartamento tornou-se urgência! Ainda bem que, um mês após a chegada em Berlim, outro apartamento ficou disponível. Claro que o aluguel teve que subir um pouquinho para se conseguir algo em um estado melhor do que aquele "lugar". Hoje estou em um apartamento ainda em estilo "Kinder Ovo" mas sem surpresa! Muito bem cuidado, decorado e com tudo funcionando. A geladeira ainda poderia ser maior, mas dá pras minhas necessidades diárias. Armários para guardar as roupas e cozinha equipada. Consegui, enfim, relaxar depois de um mês por aqui. E, melhor ainda, antes do frio chegar! Mas fiquei impressionada como é possível que pessoas morem em um prédio onde as paredes estão, literalmente, caindo; sem aquecimento; em pleno século XXI, no coração do bairro mais proeminente da capital de um país civilizado só para dizer que moram em Prenzlauer Berg. Sinceramente, esse tipo de pensamento não dá pra mim!

3 comentários:

  1. Vou abrir a temporada de comentários??? :o)
    Flora, estamos torcendo por você e pela sua felicidade nessa "aventura". É um processo de descobrimento fantástico que só quem solta as amarras do porto seguro sabe.
    Saiba que nosso coração está com você e com os gatinhos! Muita paz, harmonia, sabedoria e juízo para enfrentar os desafios que ainda estão por vir!!!
    Helon, Paula e Daniel.

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  2. Ah, Helon! Que lindo! Obrigada!! Desejo tudo de mais lindo pra vocês também!!!

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  3. Seus últimos comentários parecem dignos do Brasil, mas cheguei a conclusão de que até no morro do Rio a gente pode colocar rede para gatos. Eu teria dado um piti histérico e provavelmente o alemão que eu nunca falei sairia da minha boca mesmo assim! (HAHA!)
    Estou louca para dar uma passeada por aí, rever você e as meninas. Boa sorte na sua experiência. Aliás, a sorte nós é que fazemos! Então, boa luta!!!
    BEIJOS

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