sábado, 3 de agosto de 2013

Um dia no Mar Báltico

     Ontem fui, pela primeira vez, em uma praia alemã. Já estive em outras praias na Europa, mas apenas visitando rapidinho já que sempre venho para cá no inverno; mas nunca havia realmente visto como funcionam as coisas durante o verão e, confesso, achei engraçado.
     Logo na chegada já achei algumas coisas curiosas. Sim, sei que não estou em um país tropical e que as praias são diferentes. Mas, como diria Jack Estripador, vamos por partes. Primeiro, a praia em si. Logo ao chegar percebi que o mar não possui ondas. Quem entende de oceanos e seus níveis sabe o que significa um mar nível 1: sem ondas, parecido com um lago. A areia é branca e fina, mas com várias pedrinhas no meio. Ao invés de conchas na beira da água, apenas seixos e muita, mas muita, alga-marinha. Para se chegar à parte mais funda, cruza-se um verdadeiro tapete fechado de algas-marinhas em todas as suas formas e cores. É tão raso que se caminha muito até conseguir estar submerso até o pescoço. A água transparente e fria mas, por incrível que pareça, menos fria que a água de Ipanema e um tráfego intenso de barcos comerciais e turísticos cruzam o horizonte. Existe até uma rota turística específica que conecta sete países com construções góticas em tijolinhos através do Báltico: Suécia, Dinamarca, Alemanha, Polônia, Lituânia, Latvia e Estônia.
     Na Alemanha as pessoas lidam de uma forma diferente com o corpo. Na minha opinião, uma forma muito mais saudável. Um corpo é um corpo e só, mostrá-lo não significa nada, e eles lidam muito bem com o nu. Por aqui, especialmente no antigo lado oriental, é muito comum que as praias tenham o aviso "FKK" na entrada. "FKK" significa "Freikörperkultur", na tradução literal: cultura do corpo livre, ou, como se diz no Brasil, nudismo. Mas diferente do que acontece no hemisfério sul, aqui as praias "FKK" não são isoladas, são praias onde todos vão independente de praticarem ou não o nudismo. Embora eu acredite que seja muito saudável lidar com o corpo dessa forma, pessoalmente não consigo ficar nua em público e, confesso, é estranho mergulhar e, ao sair da água, dar de cara com uma pessoa pelada na sua frente. Mas a naturalidade com que os alemães lidam com isso faz com que fiquemos confortáveis com a situação. Diferente do que ocorre no litoral brasileiro, por aqui as praias não são local de paquera. Talvez por isso, essa relação com o corpo seja ainda mais livre e feliz. Crianças, jovens e velhos, com ou sem roupa de banho, se espalham pela areia da praia. 
     O sol, impiedoso no alto dos seus 40ºC não dava trégua e a areia se encheu de guarda-sóis, tecidos que formam cercas ao redor do "seu" pedaço de areia, barracas (isso mesmo, barracas de camping) e Strandkörben (literalmente "cestas de praia"). Por aqui as opções para se proteger do sol são mais numerosas. Não, não pensem que isso acontece porque eles têm a pele bastante branca pois não usam filtro solar. Aliás, vi apenas um casal passando filtro solar neles e nas crianças, no geral, o pessoal se joga na toalha e torra sem proteção alguma. Eu, com minha fotofobia e hipersensibilidade da pele ao sol, fiquei escondida dentro da minha "cesta de praia" observando o passar das horas e o tamanho da vermelhidão da pele das pessoas. Algumas já estavam tão vermelhas que eu só conseguia pensar: "ai, isso dói". Mas me impressionou foi a falta de cuidado com crianças pequenas. Várias pessoas sem proteção nem de um simples guarda-sol, com suas crianças de 1 ano já vermelhinhas depois de apenas alguns minutos sob os sol. 
As "cestas de praia" são invenções muito interessantes e práticas. A princípio, apenas olhando, achei que fossem desconfortáveis por sua aparência dura mas a verdade é outra. Feitas de vime, essas cadeiras fornecem uma sombra verdadeira que protege de verdade. Elas possuem almofadas para sentar e se encostar, apoiadores para pés e pode-se movimentar sua cobertura para deixá-las mais abertas ou fechadas. Caso esteja ventando muito (e o vento por aqui é fresquinho), elas protegem sem abafar. Pode-se também, ajustar o banco interno para que fique mais deitado ou mais em pé. E, para se bronzear nelas, basta virá-las na direção do sol. Realmente muito interessante.
     Outra coisa bastante curiosa pra quem está acostumada à água de coco, Mate Leão, Biscoito Globo, empadas e toda uma série de produtos alimentícios (e não alimentícios) sendo vendidos na praia não é o fato de não existirem vendedores ambulantes na areia porque sabemos que essa é uma característica das praias brasileiras e, principalmente, cariocas; mas o fato de estarmos na Alemanha e não ver quase ninguém bebendo cerveja. Eu imaginava que o pessoal aproveitava a praia para beber cerveja, se bem que por aqui, eles não precisam de desculpa pra isso. Mas durante o dia inteiro, vi apenas um cara bebendo cerveja. Em sua maioria, vi crianças comendo picolé (até aí, tudo bem) e pessoas bebendo café. É isso mesmo: café na praia! Nos trailers onde se alugam os guarda-sóis, cerquinhas, barracas e "cestas de praia", existe máquina de café. Que tal um cappuccino sob o sol? Ou então, um Late Macchiato acompanhado de Currywurst (salsicha com molho curry)?
     Se alguém disser que alemães não vão à praia porque não possuem boas praias, posso dizer que não é verdade. As praias alemãs são belas. Só precisamos aprender a admirar a beleza de uma geografia diferente da nossa, mas nem por isso menos ou mais bonita. Elas são lindas e os alemães as aproveitam muito. Do jeito deles, da maneira como lidam com tudo que envolve uma ida à praia, eles sabem aproveitá-las muito bem. Foi uma experiência muito interessante, divertida, educativa e, acima de tudo, tranquila.

3 comentários:

  1. Flora, iremos te apresentar às "praias" de Montreal. Há muitos hábitos parecidos com os que vc descreveu no post, com exceçao às placas de nudismo e à falta de proteçao ao sol. De resto, como vc muito bem descreveu, as famílias vao às praias para aproveitar o final de semana realmente em "família"! Nada de azaraçao, o que eu acho ótimo, porque todos ficam muito mais à vontade. Aqui, as pessoas têm por tradiçao levar a própria comida para a praia. Garrafas de vidro sao proibidas. Há áreas específicas para BBQ e a diversao é garantida! Vc vai gostar! :-)

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  2. q experiência interessante. fui à praia na espanha e era diferente, não tão lotado, sem as cestas, mas tinha uma esteira de plástico para se caminhar desde a calçada até bem perto da água sem precisar pisar na areia.

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