sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Expectativas

     O que faz com que uma pessoa sinta orgulho de outra?
     Faz algum tempo que certos pensamentos andam rondando a minha mente. Não sei se bons ou ruins, construtivos ou destrutivos, ou se apenas dúvidas normais de qualquer ser humano. Já que ninguém fala sobre isso, como saber?
    Desde que nascemos temos uma expectativa gerada em cima de nós e, conforme crescemos, criamos nossas próprias expectativas (sobre nossas vidas e sobre outras pessoas) e tentamos superá-las ou, ao menos, satisfazê-las. Algumas pessoas parecem não ter vida própria e seguem todo o manual de instruções que receberam de seus pais desde seu nascimento sem nunca expressar suas próprias vontades e desejos. Alguns até confundem essas expectativas externas com seus desejos íntimos. Outros vivem para não cumprir nada daquilo que lhes foi planejado, vivem para desafiar tais expectativas. E outros, acredito que a maioria, vivem meio lá e meio cá tentando satisfazer as expectativas e sonhos alheios e próprios. Esses últimos, coitados, penam.
     Acho que me encaixo no último grupo. Sei que, como todos os pais e mães da Terra, os meus também criaram suas respectivas expectativas em cima de mim sobre o tipo de vida que eu teria, a carreira que escolheria, etc. Sinceramente, acho que frustrei todas. Há dentro de mim dois seres diferentes que brigam e não parecem se entender. Um gostaria de viver nos anos 50 e apenas cuidar da casa e dos filhos, seguir aquilo que a sociedade espera e encontrar a felicidade nas coisas simples trazidas pelo manual de instruções sociais. O outro tem horror às coisas simples demais, não consegue se satisfazer com pouco, não segue várias regras impostas pela sociedade e nunca faz o que se espera dele. Viver com essa dicotomia dentro é complicado. Bem complicado.
     Meu lado tradicional adora cozinhar (de preferência coisas doces, difíceis e belas, como de confeitaria), bordar, cuidar da casa, acha lindo romance tradicional daqueles de receber flores e chocolates, casas com jardim onde crianças e gatinhos brincam no quintal, famílias e comemorações de Natal com tudo que tem direito. O outro lado é mais impaciente, não consegue trabalhar ou fazer nada que não proporcione o mínimo de prazer, não acha seu lugar no mundo, vai para onde o vento soprar, não se encaixa na definição social de família, não se encaixa em nada daquilo que é esperado de uma pessoa do sexo feminino com exceção do gosto por maquiagem, vestidos e saltos.
     Na verdade, ambos os lados adorariam ter um trabalho que desse uma boa renda e que fosse agradável; ambos gostariam de ter uma casa com gatinhos e crianças correndo no quintal. Mas a realidade às vezes bate e me pergunto o que será que meus pais pensam de mim? Ao que tudo indica eu não sou um exemplo de filha. Não sou daquelas que dão orgulho aos pais: não casei, não tenho filhos, não me sustento (não chego nem perto disso!), não encontro meu lugar no mundo, tenho menos rumo hoje do que tinha na adolescência e muito mais frustrações, não consigo realizar nenhum dos meus sonhos mais importantes, já passei dos 30 e não tenho a mínima perspectiva de conseguir realizar o mais simples dos meus sonhos: uma casinha com jardim e uma pequerrucha a tiracolo. Fico imaginando o que eles devem pensar e sentir... Queria enche-los de felicidade, cumprir pelo menos alguns dos sonhos deles, ser motivo de orgulho, mas não sei ser de outra forma.
     Às vezes acho que nado contra a correnteza, outras que a correnteza me leva sem que eu tenha nenhum controle sobre a direção. Cada ano que passa é mais um peso sobre os ombros, mais cobrança interna e mais frustração. Dizem que a vida tem um plano pra nós e não adianta ir contra ele. Será? Que plano será esse que até agora não parece se mostrar? E mais expectativa se cria, dessa vez sobre a vida.
     Difícil questão essa das expectativas.

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