sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

A saga dos "momentos Bridget Jones"

O Diário de Bridget Jones - Universal Pictures, 2001


 "Por que é que existem tantas mulheres solteiras na faixa dos 30 hoje em dia, Bridget?"


     Ultimamente tenho vivido muitos "momentos Bridget Jones", com a diferença de que já sou mais velha do que ela no primeiro livro, o que só faz com que esses momentos sejam ainda mais estranhos. Um dia destes, alguém que conheci recentemente (e com quem nunca tive qualquer conversa sobre a minha vida privada), de repente perguntou: "Então, a razão pela qual você está solteira é porque você só conheceu pessoas ruins em sua vida?". Vamos ser claros: a pergunta foi baseada exclusivamente no fato de eu ter 37 anos de idade, ser solteira e sem filhos (porque na maneira de pensar dessa pessoa, de alguma forma, ter filhos significa que você encontrou alguém "bom" em algum momento. Aham ... .). Sem dar muita consideração à resposta - já que fui pega de surpresa e não podia acreditar nos meus ouvidos - respondi imediatamente "não, não é isso". A pergunta era séria?
     Os dias se passaram e eu fiquei pensando por que as pessoas assumem que se você é solteiro é porque você só conheceu idiotas? Isso me fez pensar sobre as poucas pessoas na vida com quem tive um relacionamento e fico feliz em dizer que tenho sido, basicamente, "livre de idiotas". Não tive muitos relacionamentos: apenas dois vida curta e dois que duraram alguns anos. É claro que todos tiveram seus altos e baixos, mas também deixaram boas lembranças, mesmo o mais difícil deles teve bons momentos e esses são os que valem a pena lembrar.
     Todo mundo tem suas próprias questões, eu certamente tenho as minhas. Relacionamentos têm seus próprios problemas, e é natural tentar resolvê-los. Alguns são mais fáceis, outros mais difíceis; ao longo do tempo, uns tornam-se mais fáceis, outros mais complicados, é como a vida é. Eu nunca iria culpar a outra pessoa por estar solteira nos meus "30 e muitos".
     Eu tive dois relacionamentos maravilhosos, se nenhum deles progrediu o suficiente e acabou em casamento é porque não era o momento certo, mas nunca foi porque a outra pessoa era ruim. Relacionamentos são vias de duas mãos e posso dizer que tive a sorte de conhecer pessoas incríveis e inesquecíveis que estarão para sempre no meu coração.
     Então, a minha resposta para essa estranha pergunta é: eu estou solteira porque eu estou. A vida nem sempre acontece de acordo com nossos planos, na maioria das vezes é exatamente o oposto, mas isso não significa que eu não estou feliz. Minha felicidade não está condicionada a estar em um relacionamento, mas a estar em paz com quem eu sou. E, se algum dia, aparecer alguém com quem a relação leve ao casamento e à família, sim, vai ser bom, mas não vai ser "o" motivo da minha felicidade,vai ser, simplesmente, uma adição ao que já é bom.

Bridget Jones: No Limite da Razão - Universal Pictures, 2004

domingo, 4 de janeiro de 2015

As emoções dos idiomas

     Esses últimos dias, além de procurar emprego e enviar currículos, tenho me focado em melhorar os idiomas que aprendi até hoje. Cada dia é dedicado a um deles e todos passam pelas mesmas fases: exercícios de gramática e vocabulário, leituras, e assistir programas para (re)acostumar os ouvidos.
     Algumas pessoas associam países à comida, à música, à arte. Mas eu também associo com sensações. É o som, a melodia da língua que me faz associá-la a uma sensação diferente. É como se cada idioma tivesse uma característica própria e esta estivesse relacionada à alguma emoção. Independente do que se esteja dizendo. Ok, vamos ver se consigo me explicar melhor. Por exemplo:

quando se fala inglês americano, a conversa soa "legal" (cool).



Já o inglês britânico, não interessa se o diálogo se trata de uma briga, sempre soa extremamente educado.






   

     Francês, que me desculpem os amigos francófonos, por mais que alguém esteja sendo verdadeiramente simpático, sempre soa um pouco prepotente.

Italiano é, para mim, a linguagem do romance. Não interessa se duas pessoas estão brigando, pra mim a melodia é sempre romântica, e olha que já tive minha oportunidade de ser grossa nessa língua.






     E, alemão... bom, alemão acho que não sou a única que pensa assim, soa um pouco duro. Convenhamos, quando se quer reclamar de algo a reclamação parece ter mais força em alemão do que em qualquer outra língua ocidental. Mas, sinceramente, eu adoro. Adoro o som, a dificuldade da pronúncia e as lembranças boas que me traz, apesar da dificuldade da gramática.



     Já me perguntaram qual associação faço com a língua portuguesa. Bom, talvez por ser minha língua materna, o português do Brasil não tem esse efeito sobre mim, e o português de Portugual ainda não consegui definir muito bem.
     E pra vocês? Como seria?

domingo, 24 de agosto de 2014

A difícil tarefa de escrever um currículo

     Como quase todos que me conhecem sabem, passei a maior parte da minha vida correndo atrás da profissão que me deixa mais feliz no mundo: atuar. Perdi as contas de quantos testes, críticas (nem sempre construtivas), portas na cara e murros em ponta de facas dei dos 14 aos 32 anos. 
     Quando a ficha do "pós 30" caiu, decidi que então iria dar uma satisfação à família e à sociedade e terminar, finalmente, um curso universitário. Era a pressão social junto com a pressão interna pra "criar vergonha na cara e me sustentar". O que quase ninguém sabe é que não foi apenas no teatro que dei muito murro em ponta de faca. Toda vez que me candidatava a um trabalho, qualquer que fosse, era rejeitada. Se não fosse logo na seleção dos currículos, era na primeira entrevista ou nas insuportáveis dinâmicas de grupo (pra que ainda fazem isso? Não prova absolutamente nada da competência pro trabalho.). O mais engraçado, e irritante, eram as desculpas furadas do porquê eu não tinha conseguido a vaga, pois em geral, só recebia esse tipo de comentário: "na dinâmica você provou ser líder sem ser ditatorial, isso é muito bom!", "você sabe se comunicar", "você é adaptável a diferentes tipos de ambiente de trabalho", etc. Aí quando eu perguntava "então, por que não consegui a vaga?", as respostas eram do tipo "você não tem uma formação superior", ou dependendo do trabalho "você é muito qualificada para a vaga" (depois do diploma a desculpa mudou para "você é pouco qualificada para o trabalho". Aham...), "você não tem experiência prévia na área" (espera aí, mas e os concorrentes de 18 anos que também estão tentando a vaga no estágio, por acaso têm qualquer experiência? Nem de vida ainda!), etc.
     Por essas e por outras meu currículo não possui nenhum emprego de tempo integral ou longa duração. Todos os trabalhos que fiz foram freelancer e/ou temporários. Finalmente, em 2008, alguém deu algum valor para o tal currículo "picado" e consegui um trabalho, de novo freelancer, mas que durou até minha mudança do Rio. De qualquer maneira não pagava nem as contas.
     Hoje, me encontro tentando conseguir emprego aqui em Montreal, sem sucesso até agora. Tudo bem, eu sei que aqui francês é obrigatório e ainda não possuo francês bom o suficiente para lidar com o público, mas existem muitas vagas para empresas anglófonas. E, outro fato estranho, por que não consigo nem as vagas de tempo parcial oferecidas dentro da própria universidade onde francês não é necessário?
     Entreguei meu currículo para uma amiga que me disse como reestruturá-lo para o modelo canadense, o que talvez aumentasse minhas chances. Agradeci a ajuda e fiz as alterações. E lá se foram mais vários currículos nas mais diversas direções e pras mais diversas funções. Nada.
     Confesso que é difícil não desanimar, não começar a se entregar pra conhecida sensação de fracasso que mora escondidinha lá dentro e que, apesar de domada por anos de terapia, de vez em quando escapa e vem à tona. Manter o otimismo, continuar a procura por qualquer trabalho que queiram me aceitar quando de novo me sinto dando murro em ponta de faca, é muito desgastante. Não tenho a chance de nem ao menos mostrar que sou esforçada, que aprendo rápido e que trabalho duro se me derem a oportunidade de trabalhar.
     Onde estará o erro? Por que as portas não se abrem? Cada ano que passa o tal currículo fica mais sem sentido. Detesto esse sistema. Currículos não provam nada sobre a real capacidade e qualidade do trabalho da pessoa a quem pertencem.
     Enfim... a revolta precisava sair de dentro de mim. Tudo isso só pra falar que não sei mais que "fórmula" usar pra escrever os dito cujos. Nada parece funcionar. Começo a pensar se deveria fazer um "curso técnico de sei lá o quê bem mão na massa do que se precisa pelo mundo" pra ver se aparece alguma coisa. Mas, pra ser sincera, não acredito que adiante.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Entrevistas de Emprego

   
Fonte da imagem: onlinedegrees.com
     A primeira entrevista de trabalho em um país estrangeiro a gente nunca esquece!
     Era uma manhã ensolarada e quente de primavera em Montreal e lá fui eu para uma entrevista coletiva. No Brasil, entrevistas coletivas significam dinâmicas de grupo e vários exerciciozinhos chatos a serem realizados com ou sem os "coleguinhas". Saí de casa já psicologicamente preparada pra enfrentar a sabatina de chatices que essas dinâmicas trazem. Cheguei lá e, pra minha surpresa, ao invés de 30 pessoas esperando ansiosamente, eramos apenas 10. Entramos  na sala e me senti num "reality show" esquema "The Apprentice". Ao contrário de Donald Trump, os avaliadores eram simpáticos e sorridentes e, também, em número muito superior ao que costuma acontecer em território brasileiro. Para os 10 candidatos haviam seis avaliadores.
     Duas mesas compridas, uma de frente para a outra, se encontravam na sala com nossos lugares devidamente marcados por plaquinhas com nossos nomes. A primeira hora da entrevista coletiva foi uma apresentação da empresa, do trabalho para o qual estão contratando, das possibilidades de crescimento e do processo de seleção. Até aí, nenhuma novidade. A segunda parte começou com a apresentação individual dos candidatos. Deveríamos dizer nossos nomes, de onde somos e algum feito que nos traga realização e diga um pouco sobre nós.
     Começaram as apresentações e eu fui escolhida para ser a segunda. Fiz aquela apresentação básica: "meu nome é Flora Romero, venho do Brasil, estou cursando mestrado em história na McGill, blábláblábláblá", na hora da realização falei que me sinto orgulhosa de ter traduzido um livro fantástico sobre meio ambiente.Daí vieram os outros. Do "alto" dos seus 20 e pouquíssimos anos saíam vomitando cifras e mais cifras dos mais diversos motivos pelos quais arrecadaram dinheiro. Falavam aquelas coisas básicas (e ridículas) como "trabalho pesado e sou focado em metas". Eu apenas observava e pensava que tem tanta coisa mais interessante na vida... olhava ao redor e me via como um peixe fora d'água. Eu não tenho cifras pra falar, não ficarei enchendo a boca pra dizer que trabalho pesado porque quem já trabalhou comigo sabe e quem ainda não trabalhou vai descobrir, além do mais, sempre penso que, quem se enche demais acaba fazendo o oposto na hora "h".
     Saí da entrevista coletiva já sabendo que não seria chamada pra entrevista individual que aconteceria essa tarde. Era óbvio que eu não fazia parte daquilo ali. Saí com a certeza de que não nasci pro mundo dos negócios. Jamais serei alguém que sai falando números, ou contando vantagem sobre realizações. O que exatamente é uma realização? É algo tão pessoal. Algumas pessoas acreditam que ter feito muito dinheiro num determinado momento é algo de que se orgulhar e se gabar. Sem problemas. Eu jamais serei dessas pessoas. Pra mim, realizações são coisas que deixam a mente e o coração felizes. Trabalhar num navio do Greenpeace, aprender a ler, passar de ano em quimica/física/matemática, aprender vários idiomas, publicar um artigo, ver a sementinha que plantei virar uma planta e dar frutos, receber um elogio sincero por um personagem bem trabalhado, ver meu trabalho de tradução nos mais diversos lugares, ter participado do movimento escoteiro, aprender a tocar um instrumento musical (e/ou cantar), ter poucos mas sinceros amigos... essas são algumas das coisas que considero grandes realizações, e as guardo, bem guardadinhas, no coração.

sábado, 19 de abril de 2014

Pequenas felicidades

     Nesses últimos dias, coisas divertidas têm me vindo à cabeça aparentemente sem razão alguma.
     Me pego rindo sozinha por pensar em palavras como "fronha" e vendo as versões sem acentos criadas pelo celular. Rolei de rir com "pacoca", "pacoquinha" e a idéia de comer uma "maca". Bobagens que deixam a vida mais divertida.
     Outras vezes percebo que pensamentos sobre as pequenas coisinhas que me fazem feliz correm em minha mente. Normalmente como um pano de fundo dos pensamentos mais imediatos e práticos de ter que escrever páginas e páginas, ler textos e mais textos e enlouquecer entrando noite a dentro para cumprir prazos. O fato é que estão lá. E me vejo sorrindo ao pensar na mania da Sophia de entrar embaixo do edredom pra dormir coladinha em mim assim que vou pra cama, no ronquinho do Petruchio e suas espreguiçadas no meio do sono, na recepção calorosa dos dois sempre que chego em casa, no passarinho vermelho que às vezes visita o pátio, na família de esquilos que todos os dias dá o ar da graça, nos bordados que estão quase prontos, nas sementes plantadas há algum tempo e que estão brotando nos vasos, na dança do Cainho escutando rock, no jeitinho meio tímido e educado da Bruninha e da Camila nos vídeos que a Ju posta, no sorriso do Dudu, no carinho da Luisa... Sorrio com dias chuvosos e nublados que trazem cheiro de terra molhada, com a neve que aparece mesmo durante a primavera, com as mudanças na paisagem da cidade conforme passam as estações, com os varais coloridos de roupa nos quintais...
     Sonhos com trilha sonora também são uma boa novidade. As músicas do a-ha ou a carreira solo do Morten sempre me fazem sentir o coração quente e o sorriso brotar no rosto. Acordar com elas na cabeça, então, é certeza de começar o dia bem. Nunca tinha vivido sonhos "musicais" e tenho achado interessante. A-ha, Sting, Bon Jovi, Rolling Stones, No Doubt, Billy Joel, etc têm sido companhias matinais incríveis.
     Porque essas coisas têm acontecido, não sei. Talvez essa tenha sido a forma que meu cérebro achou pra relaxar durante essas últimas semanas do semestre. Se foi essa a razão ou não, impossível saber, mas que tem sido divertido, isso tem.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Natal


     Falem o que quiserem, mas eu adoro tradições natalinas. Decorações se espalhando por cada canto da casa, cardápio especial e a felicidade de montar o pinheirinho. Sim, eu adoro tudo isso!

     Quando criança os natais eram na casa da vovó, no sul do Brasil. Pra mim era mais que Natal, era mágico. O pinheiro montado no cantinho da sala parecia o maior e mais lindo que existia! E, embora não tivéssemos aquela ceia tradicional, ainda assim o cardápio da noite era diferenciado. Delícias que eram feitas para aquela ocasião se espalhavam pela mesa. Era tão bom ver o rosto do meu vovô iluminado pelas velinhas no pinheiro e pelo amor que sentia pelas mulheres da sua vida: minha avó, mãe, tia, e nós, as quatro netas. Era um dia especial, brincávamos na rua com as outras crianças da vizinhança, dia de dormir tarde (ou ao menos, mais tarde que o normal), de expectativa pelos pacotinhos lindamente embrulhados que nos aguardavam. Nem o calor das noites de verão rio grandenses atrapalhava a magia daquela que era, pra mim, a melhor noite do ano.

     A vida inteira sonhei que um dia teria minha casa inteira decorada, como em filmes, e, se possível, neve do lado de fora da janela. Sim, sempre sonhei com Natal de filmes. Esse ano passarei o primeiro Natal branco da minha vida. Bem branco! Na sacada do quarto tem mais de 60cm de neve e, mesmo que não caia mais até dia 24, também não irá
Ceia especial nem que seja pra um.
derreter, ou seja, o Natal será branquinho, branquinho. A casa ainda não está totalmente decorada como nos meus sonhos, não por falta de vontade... mas o cantinho do pinheiro está ali, me fazendo sorrir. Aliás, no dia que saí pra buscar um pinheirinho, voltava pra casa trazendo no carrinho aquela arvorezinha viva quando começou a nevar. Um sorriso se abriu no meu rosto. Não sei nem explicar a satisfação de estar carregando o maior símbolo do Natal (ao menos pra mim) sob a neve. Parecia que fazia todo o sentido do mundo!
     Sei que pode parecer bobagem pra muita gente, mas cada um tem seus sonhos e a importância deles é pessoal. O meu sonho de Natal ainda é calorzinho dentro de casa, com muitos sorrisos e abraços sem pressa, uma festa que entre noite adentro, uma mesa cheia de guloseimas especiais feitas para um dia especial, casa inteiramente enfeitada, pinheirão decorado e o mundo branquinho lá fora.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Preparando para o inverno

     Vindo de um país tropical, não tinha a mínima idéia de como as pessoas se preparam para o inverno. Como todos sabem, passei um ano em Berlim, cidade que dizem ter um inverno rigoroso para os padrões tropicais. Mas por lá a estação foi menos intensa e, definitivamente, menos branca.
   
Algumas semanas atrás comecei a notar diferenças na paisagem de Montreal. Eram as pessoas se preparando para a neve que, inevitavelmente, chegaria em algum momento. Não presenciei isso em Berlim. Talvez porque a incidência de neve ser menor, mas o fato é que a única diferença que vi por lá foi o pessoal trocando os pneus por pneus de inverno, e fontes serem cobertas por tapumes de madeira. Aqui em Montreal é diferente.
Moro numa região bem residencial com muitas casas e prédios com apenas três apartamentos. Talvez por isso tenha sido mais fácil observar o comportamento das pessoas durante a mudança do verão para o outono e, agora, para o inverno.
   
Um dia, caminhando pela rua, percebi que uma casa tinha um toldo branco saindo da garagem. Achei estranho. No fim de semana seguinte, quase todas as casas e prédios tinham esses mesmos toldos. E o mais engraçado são os apartamentos subterrâneos: a entrada do apartamento é cercada de toldo por todos os lados e parece que se está entrando em um cenário de filmes como "Epidemia". Plantas são protegidas, escadas ganham piso de borracha, corrimãos e pisos das varandas são trocados e, onde antes não existiam, colocados.
     Quando a neve finalmente aparece, percebe-se outras coisas. Nos prédios, cada um é responsável pela remoção da neve na sua sacada e, nas áreas comuns, o encarregado pelo edifício. Nas casa, claro, cada um lida com a neve como bem entende. Em frente à janela do meu quarto tem uma casinha linda onde mora um casal de velhinhos. Todo dia que neva, um carro vermelho chega por volta das 9:00, e de dentro sai um homem armado de pá, vassoura e um tipo de carrinho de mão feito especialmente para neve. Ele limpa a entrada da casa, o caminho até a calçada, a garagem, sacode o toldo sobre o carro, e limpa a saída da garagem até a rua. Depois, entra no carro e vai embora.
Nunca o vi conversando com os donos da casa, acho que deve ser uma pessoa contratada para fazer esse serviço pra quem já cansou de fazê-lo por anos a fio.
     Até agora não vi diferença no comportamento dos montrealenses simplesmente porque a estação mudou, como acontece em Berlim. Por aqui, não existe bipolaridade sazonal. Continuo vendo sorrisos pela rua, pessoas felizes arrumando jardins, portas e janelas para o Natal e crianças se atirando em todo e qualquer morrinho de neve que aparece no caminho. Vizinhos se cumprimentam, brincam, dão gargalhadas e dividem café enquanto retiram a neve da frente de suas casas. Na rua, pedestres se entreolham e riem uns para os outros pelo fato de estarem só com o rosto descoberto. Desconhecidos passam e falam com um sorriso no rosto: "froid, huh?". E eu? Simplesmente amando tudo isso.