domingo, 7 de outubro de 2018

Devo ter tido muito azar

Esses últimos meses, de tensão, apreensão e medo, têm me feito pensar muito na minha vida, em tudo que aprendi e continuo aprendendo, e naqueles que cruzaram meu caminho.

Quando nasci, meus pais não sabiam se eu seria menino ou menina, branca, negra, índia, asiática. Isso pra eles não importava. Estavam lá de coração aberto pra receber aquele serzinho, fosse ele quem fosse. O mesmo aconteceu com o resto da minha família: avós, avôs, bisavó, tios e tias, todos de braços abertos pra me receber.

Meus pais me ensinaram a respeitar a vida dos seres vivos não importando Reino, Filo, Classe, Ordem, Família, Gênero ou Espécie.

Cresci com amigos de todas as etnias e classes sociais. Estudei em escola pública e em escola particular e nunca desfiz de quem estudava em uma ou em outra.

Aprendi com meus pais, avós e tios que violência não é solução e só leva à ainda mais violência.

Também me ensinaram que o conhecimento é a maior e melhor arma para: entender de onde viemos e porquê as coisas são da maneira como são hoje; para analizar e discernir caminhos que levarão a um futuro bom pra todos e não apenas para alguns; para não repetir histórias tristes do nosso ou de outros países, ou seja, aprender com a história.

Me ensinaram a respeitar e apreciar a liberdade, e tudo que ela significa: poder ir e vir, opinar, ser quem se é.

Meus pais sempre deixaram claro quando não concordam com decisões que tomo, mas mesmo assim, sempre estiveram ao meu lado me apoiando. Imaginem só que, com essa e outras atitudes, meus pais me ensinaram a amar incondicionalmente. Mas que absurdo!

Fui levada ao escotismo pela minha tia. Lá conheci pessoas de todos os caminhos de vida. No movimento aprendi que não estamos sozinhos no mundo e que este não gira ao redor do nosso umbigo e das nossas vontades, mas que precisamos uns dos outros pra sobreviver e viver. Que juntos podemos muito mais do que divididos.

Cresci aprendendo que as diferenças não são ameaçadoras, mas sim, enriquecedoras. As diferenças são o que fazem esse mundo incrível.

Aprendi a amar as pessoas por serem pessoas, não pela cor da pele delas, pelo sexo com o qual nasceram, pelo país de onde vieram, pela orientação sexual, pela religião, pois isso não as define. Ninguém é melhor ou pior do que ninguém, todos somos iguais. O que define uma pessoa é o seu caráter, não a sua religião, sua etnia, sua orientação sexual, ou gênero.

Me ensinaram a não ser hipócrita e a ser honesta, e assim, nunca me deixei levar por aquele famoso "jeitinho".

Aprendi que todos somos um com o planeta e que precisamos mais dele do que ele da gente, por isso mesmo, temos que defendê-lo, amá-lo, cuidá-lo.

Também fui ensinada que o verdadeiro significado de família não está na ligação de sangue, mas na ligação amorosa que compartilhamos.

Sair do armário foi fácil, pois sempre tive certeza do amor deles por mim. Nunca quiseram outra coisa que não a minha felicidade. Nunca me menosprezaram por eu ser quem sou.

Até hoje minha família - sem laços de sangue - nunca me decepcionou. Sempre esteve presente, sempre apoiou, sempre mostrou amor incondicional a cada adversidade e em cada bom momento.

É... eu devo ter dado muito azar mesmo, pois parece que o que, ultimamente, é considerado "de boa moral" é exatamente o contrário de tudo que sempre me ensinaram. Pois se é assim, eu prefiro continuar sendo “imoral".

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