terça-feira, 15 de março de 2016

Não entendo.

   Juro que não entendo o pensamento corrente por algumas cabeças no Brasil de hoje. Tenho visto tanta reclamação de que as manifestações que estão ocorrendo só são atendidas pela classe média branca.
   Vamos começar pelo começo. O Brasil se encontra sob um sistema político chamado democracia. Diferente de um estado totalitário, a democracia permite que façamos a escolha dos nossos governantes e também permite que, se não estivermos satisfeitos, nos manifestemos por mudanças. Em nenhum momento vem atrelado ao direito de manifestação a classe social ou a etnia. Uma classe social não tem mais ou menos direito de se manifestar que a outra. O mesmo vale para a etnia.
   Sim, o Brasil tem um passado difícil, complicado e, historicamente falando, recente. O Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravidão em 1888. A sociedade brasileira vem mudando desde então e continuará a mudar. A cor da classe média hoje é resultado de uma história turbulenta mas que está caminhando pra mudança, só que essas mudanças não acontecem da noite para o dia, nem em uma dezena de anos. Existem processos em andamento para que inclusões necessárias sejam feitas e mais pessoas possam ter acesso a um padrão de vida melhor (com tudo que isso significa), mas essas mudanças levam tempo. A classe média que hoje está aí, é, majoritariamente branca, sim, é verdade, mas isso não significa que não queira a inclusão, que não queira também uma sociedade mais justa. Ninguém tem culpa da cor ou da classe social onde nasceu. Nada disso desmerece o direito à indignação, à frustração, ao desejo de mudança. Nem um, nem outro, invalida o direito de manifestação.
   A classe média sustenta o país. Infelizmente, a classe pobre é tão miserável que não consegue arcar com a própria vida, que dirá com o imposto de renda e, em sua grande maioria, encaixa-se na classificação de "isento". A classe alta, uma minoria, sozinha não sustentaria esse enorme país. Quem arca com grande parte dos impostos é a classe média, trabalhadora que sua para ganhar a sua vida. Se olharmos pra nossa história, quem sempre foi pra rua se manifestar contra os rumos do país? Vamos nos reter ao século XX que é mais pertinente pela liberdade da nação e da população já estar mais consolidada. Lembrem-se, estamos falando da maioria dos que saíram para se manifestar. Quem foi a grande maioria que saiu às ruas para lutar contra a ditadura? A classe média. Quem foi de bandeira em punho pedir Diretas Já? A classe média. Quem saiu às ruas pedindo o impeachment do Collor? A classe média. Isso pra citar apenas três das várias manifestações populares do século passado. Então, continuo sem entender qual é o problema da classe média ir para a rua se manifestar agora. Criticar e desmerecer pela classe e pela etnia é uma forma de preconceito, sim, portanto, cuidado com esse caminho.
Aqueles que reclamam que os que vão às ruas são de classe média e/ou brancos, se estivessem insatisfeitos e saíssem em manifestação, também gostariam de ter seu direito respeitado.
Ao invés de ficarmos de picuinha com quem é que vai às manifestações, vamos permitir ao outro que utilize o seu direito democrático de mostrar a sua insatisfação. Não é necessário concordar com as manifestações, mas para que o país seja realmente melhor no futuro, é necessário saber respeitar o direito de todos de protestar, de cobrar mudanças quando sente-se necessário. Jamais 100% da população concordara e gritará em uníssono pelas ruas. Então, minha gente, vamos parar com essa guerra de classes que não leva a lugar algum. Ninguém é inimigo de ninguém. Quem quer mudança, protesta, quem não quer, nesse momento não sai às ruas. Num futuro, pode ser você o incomodado que precisará sair empunhando bandeira e pedindo um país melhor, e, quando esse dia vier, você também vai querer o seu direito de manifestação respeitado.
Vamos nos dar as mãos e pensarmos como uma nação que, seja pelo caminho que for, tem um só objetivo em comum: um país melhor para todos.

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