Sim, o Brasil tem um passado difícil, complicado e, historicamente falando, recente. O Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravidão em 1888. A sociedade brasileira vem mudando desde então e continuará a mudar. A cor da classe média hoje é resultado de uma história turbulenta mas que está caminhando pra mudança, só que essas mudanças não acontecem da noite para o dia, nem em uma dezena de anos. Existem processos em andamento para que inclusões necessárias sejam feitas e mais pessoas possam ter acesso a um padrão de vida melhor (com tudo que isso significa), mas essas mudanças levam tempo. A classe média que hoje está aí, é, majoritariamente branca, sim, é verdade, mas isso não significa que não queira a inclusão, que não queira também uma sociedade mais justa. Ninguém tem culpa da cor ou da classe social onde nasceu. Nada disso desmerece o direito à indignação, à frustração, ao desejo de mudança. Nem um, nem outro, invalida o direito de manifestação.
A classe média sustenta o país. Infelizmente, a classe pobre é tão miserável que não consegue arcar com a própria vida, que dirá com o imposto de renda e, em sua grande maioria, encaixa-se na classificação de "isento". A classe alta, uma minoria, sozinha não sustentaria esse enorme país. Quem arca com grande parte dos impostos é a classe média, trabalhadora que sua para ganhar a sua vida. Se olharmos pra nossa história, quem sempre foi pra rua se manifestar contra os rumos do país? Vamos nos reter ao século XX que é mais pertinente pela liberdade da nação e da população já estar mais consolidada. Lembrem-se, estamos falando da maioria dos que saíram para se manifestar. Quem foi a grande maioria que saiu às ruas para lutar contra a ditadura? A classe média. Quem foi de bandeira em punho pedir Diretas Já? A classe média. Quem saiu às ruas pedindo o impeachment do Collor? A classe média. Isso pra citar apenas três das várias manifestações populares do século passado. Então, continuo sem entender qual é o problema da classe média ir para a rua se manifestar agora. Criticar e desmerecer pela classe e pela etnia é uma forma de preconceito, sim, portanto, cuidado com esse caminho.
Aqueles que reclamam que os que vão às ruas são de classe média e/ou brancos, se estivessem insatisfeitos e saíssem em manifestação, também gostariam de ter seu direito respeitado.
Ao invés de ficarmos de picuinha com quem é que vai às manifestações, vamos permitir ao outro que utilize o seu direito democrático de mostrar a sua insatisfação. Não é necessário concordar com as manifestações, mas para que o país seja realmente melhor no futuro, é necessário saber respeitar o direito de todos de protestar, de cobrar mudanças quando sente-se necessário. Jamais 100% da população concordara e gritará em uníssono pelas ruas. Então, minha gente, vamos parar com essa guerra de classes que não leva a lugar algum. Ninguém é inimigo de ninguém. Quem quer mudança, protesta, quem não quer, nesse momento não sai às ruas. Num futuro, pode ser você o incomodado que precisará sair empunhando bandeira e pedindo um país melhor, e, quando esse dia vier, você também vai querer o seu direito de manifestação respeitado.
Vamos nos dar as mãos e pensarmos como uma nação que, seja pelo caminho que for, tem um só objetivo em comum: um país melhor para todos.